O Presidente dos EUA, Joe Biden, iniciou no domingo, 17, uma visita histórica ao Brasil, ao ser o primeiro Chefe de Estado norte-americano em exercício a visitar a floresta da Amazónia, o que, segundo a Casa Branca, marca o seu “legado” no combate às alterações climáticas, a favor de uma revolução da energia limpa.
Após aterrar em Manaus, capital do Estado do Amazonas e porta de entrada para a maior floresta do mundo, Biden anunciou que, sob a sua Administração, os Estados Unidos ultrapassaram a meta de fornecer 11 mil milhões de dólares por ano no financiamento global para o combate às alterações climáticas em 2024, uma componente chave nesse combate.
A luta para proteger o nosso planeta é literalmente uma luta pela humanidade nas próximas gerações".Joe Biden, Presidente dos Estados Unidos
"Pode ser a única ameaça existencial para todas as nossas nações e para toda a humanidade”, disse Biden, numa reserva natural e “museu vivo” em Manaus que celebra a floresta amazónica e a sua biodiversidade.
Durante a sua breve visita a Manaus, que se seguiu à reunião do Fórum Económico Ásia-Pacífico (APEC) em Lima, Peru, e antecedeu a cimeira das 20 maiores economias, o G20, no Rio de Janeiro, que arranca nesta segunda-feira, 18, Biden anunciou investimentos dos Estados Unidos em diversas iniciativas climáticas, incluindo 50 milhões de dólares.
Ele também reuniu-se com líderes indígenas e percorreu a selva amazónica de helicóptero.
No voo, Joe Biden viu a confluência do Rio Negro e do Rio Amazonas, e a devastação da erosão costeira e dos danos causados pelo fogo na selva, segundo a Casa Branca.
A maioria dos incêndios na Amazónia está ligada à desflorestação.
Nos últimos quatro anos, a Administração “criou um novo manual ousado que transformou o combate à crise climática numa grande oportunidade económica, tanto a nível interno como externo”, afirmou a Casa Branca.
Dúvidas sobre o futuro
Várias fontes diplomáticas da APEC e do G20, que falaram com a Voz da América sob condição de anonimato por ser um assunto diplomaticamente sensível, manifestaram preocupação com o facto de os esforços dos Estados Unidos poderem ser drasticamente reduzidos sob a próxima Administração, após o Presidente eleito Donald Trump toma posse em janeiro.
Durante a sua anterior Administração, Trump causou ondas de choque entre os ativistas climáticos quando retirou os EUA do Acordo Climático de Paris, o principal fórum multilateral do mundo para mitigar as alterações climáticas.
Ele chamou repetidamente as alterações climáticas de “farsa”.
A dois meses de deixar o cargo, Joe Biden disse que está a deixar ao seu sucessor e ao país uma “base sólida sobre a qual construir, se assim o decidirem”.
“É verdade, alguns podem querer negar ou atrasar a revolução da energia limpa que está em curso na América, mas ninguém, ninguém pode revertê-la”, destacou Biden, sublinhando que o impulso para a energia limpa tem apoio bipartidário e, que outros países estão a aproveitar esse caminho para o seu progresso económico.
“A questão agora é saber qual o Governo que irá perturbar e qual irá aproveitar a enorme oportunidade económica”, acrescentou o Presidente, no que pode ser uma referência ao futuro da rivalidade EUA-China em matéria de energia limpa sob o seu sucessor.
Os comentários de Biden surgiram um dia depois de manter uma reunião em Lima com o Presidente chinês, Xi Jinping, provavelmente a última enquanto estiver no cargo.
A China é atualmente líder mundial em veículos elétricos e representa mais de metade da produção e exportações globais.
Entretanto, Trump está alegadamente a tentar reverter o crédito fiscal de compra de veículos elétricos de 7.500 dólares para os consumidores americanos, parte da Lei de Redução da Inflação de 2022, a legislação assinada por Biden sobre energia limpa e alterações climáticas.
Celso Amorim, principal conselheiro do Presidente do Brasil, disse que não prejudicará a próxima Administração Trump.
“Eu julgo as ações, por isso veremos mais tarde como essas ações evoluem”, disse à Voz da América no sábado, 16, antes da cimeira do G20 que o Brasil está a organizar.
“Para já, o Biden tem sido um bom parceiro para o Brasil, para o Presidente Lula [da Silva]", concluiu Amorim.
A partir desta segunda-feira, 18, no Rio de Janeiro, Joe Biden vai concentrar-se nos direitos dos trabalhadores e no crescimento económico limpo e participar no lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, uma iniciativa de Lula que visa acelerar os esforços globais na luta contra a fome e a pobreza até 2030.
Questionado sobre a mensagem de Biden aos líderes mundiais preocupados com a durabilidade dos compromissos dos EUA em vários assuntos, incluindo as alterações climáticas e a redução da pobreza, a secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, disse que o Presidente está “focado no momento” e no progresso contínuo alcançado nos últimos quatro anos durante o resto do seu mandato.
Um alto funcionário do Governo disse aos jornalistas que a visita do Presidente americano deixou em aberto a possibilidade de que o novo Governo possa continuar a luta contra as mudanças climáticas.
“Talvez ele venha aqui e veja a floresta e veja os danos causados pela seca e outras coisas e mude de ideia sobre as mudanças climáticas”, concluiu a fonte em referência a Donald Trump.
Texto: Patsy Widakuswara
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