Na Nigéria, cumpriu-se esta quarta-feira o terceiro dia da greve nacional contra o fim dos subsídios governamentais ao combustível, registando-se ataques sectários entre o norte muçulmano e o sul cristão. As duas crises representam um desafio para o governo, e os críticos dizem que o executivo não tem conseguido responder à situação.
Mesmo no terceiro dia da greve nacional, o governo nigeriano não exibia quaisquer sinais de que ia anular a sua decisão de cortar o popular subsídio – dizendo que a sua manutenção iria, a longo prazo, levar o país à bancarrota. Aliás o governo prometeu que não iria pagar os salários aos funcionários que aderissem à greve.
Esta táctica parece provar ser algo eficaz, apesar dos grevistas serem ainda em número que poderá forçar o país a sofrer uma crise económica a curto prazo. Sonny Enehuvwedia, funcionário civil em Warri, não desiste da greve, apesar de alguns grevistas terem desertado.
“Qualquer luta passa sempre por isto. Há sempre traições. Nem todos podemos estar em luta. Mas há aqueles que estarão para a sustentar e no final a vitória será nossa.”
A acrescentar à paralisação da segunda maior economia africana, a greve e os protestos exacerbaram os problemas de segurança na Nigéria.
A mais recente onda de violência deriva das tensões religiosas e do conflito étnico com a seita islâmica radical Boko Haram. Na semana passada, o presidente Jonathan Goodluck declarou o estado de emergência em 15 localidades mas a violência prosseguiu – registando-se mesmo o ataque a uma mesquita no sul da Nigéria.
Abubakar Kari lecciona no departamento de Sociologia da Universidade de Abuja. Ele diz que entre as duas crises politicas a ameaça maior para a Nigéria reside num potencial conflito sectário.
“A questão do aumento do preço do petróleo é uma política governamental que pode ser resolvida, se as duas partes quiserem, numa questão de horas ou mesmo minutos. Mas a segunda (questão) tem sido um problema para o qual não parece existir uma solução.”
Mas Kari diz que a crise do combustível terá que ser resolvida rapidamente se o governo quiser responder à crise de segurança – que ele frisa ser também uma questão económica.
“Porque se a pobreza aumentar e o desemprego também, será muito fácil recrutar pessoas para se envolverem em violência e terrorismo.”
Alguns na comunidade internacional receiam a possibilidade da ocorrência de uma outra guerra civil na Nigéria. Mas Kari diz que essas pessoas não fazem uma boa avaliação por estarem a usar o exemplo de outros países, como indicadores, e que estão a minimizar a maioria dos nigerianos.