A agência espacial norte-americana, NASA, vai apoiar com 550 mil dólares, nos próximos três anos, um projecto do governo angolano denominado “Sistema de Apoio às Políticas de Combate à Seca no Sul de Angola”.
A principal investigadora do projecto pelos Estados Unidos (EUA), Danielle Wood, diz que o objetivo da iniciativa é ajudar o país a encontrar soluções para os problemas de seca. Para as investigações, serão utilizados três satélites da NASA.
O projeto, lançado na quinta-feira, 27, em Luanda, pelo Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social (MINTTICS), tem a parceria do Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN) e o Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT).
Organizações da sociedade civil que acompanham a situação da seca no sul de Angola saúdam a iniciativa da NASA, mas pedem por programas sustentáveis e articulados com especialistas locais, bem como parcerias com instituições vocacionadas da União Africana.
Ambientalistas pedem integração com sociedade civil
Para o padre Pio Wacussanga, membro da organização “Plataforma Sul”, que se dedica ao combate aos efeitos da seca nas províncias do Cuando Cubango, Huíla, Namibe, Benguela e Huambo, “as soluções devem ter sustentabilidades e articuladas com todos os actores envolvidos ao invés de trabalhar em ilhas”.
“Já é bom que a NASA se envolva, mas quando não se parte dos estudos dos especialistas angolanos em hidrologia local, não haverá resultados”, defende o sacerdote católico.
A mesma opinião tem o responsável da SOS Habitat, Rafael Morais, que defende a integração no trabalho de monitoria do projecto de organizações sociais do Sul de Angola.
Por seu lado, o ambientalista e líder da Rede de Terra Angola, Bernardo Castro, questiona os resultados dos financiamentos externos anteriores no sector, embora considere que “todo o investimento para a monitorização do risco de desastre climático é sempre bem-vindo”.
Satélite detectará riscos de seca e enchentes
A directora do Space Enabled Research Group, do MIT Media Lab, sustenta que o objectivo é trabalhar com as instituições angolanas engajadas no combate ao fenómeno, no sentido de identificar os problemas em todas as regiões do país.
"Estamos na fase inicial e, em colaboração com a equipa de gestão do programa espacial, vamos fazer a recolha de dados em várias partes de Angola”, esclareceu Danielle Wood.Ela afirmou que há a possibilidade de o projeto se estender para a detecção de outros eventos climáticos extremos em diferentes localidades, como as enchentes, além de aspectos de gestão de infra-estruturas e de zonas com problemas de produção de alimentos
"Vamos obter os dados para resolvermos a questão da seca no Sul de Angola. Podemos, também, por intermédio deste mesmo satélite, detectar enchentes em diferentes zonas do país”, acrescentou a norte-americana.
Seca afeta milhões de pessoas em Angola há decadas
Angola enfrenta períodos cíclicos de seca há várias décadas. O auge da crise ocorreu em 2019 com a pior seca dos últimos 40 anos. De acordo com dados do governo angolano, mais de um milhão e 300 mil indivíduos foram afectados pela seca nas províncias do Cunene, Huíla e Namibe.
Para o secretário de Estado para as Telecomunicações e Tecnologias de Informação, Pascoal Borges Fernandes, a importância do projecto resume-se na plataforma de recolha, organização e partilha de informação, voltada à mitigação dos efeitos derivados da ocorrência de situações de seca.
"Visa mitigar e reduzir, significativamente, o impacto sobre as populações resultantes de situações de seca”, afirmou Fernandes. Para ele, "iniciativas criativas e ousadas”, como a do projecto com a NASA, tem ajudado Angola a posicionar-se entre os países emergentes na área espacial mundial em África.
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