A fome e o trauma da discriminação estão a impedir pessoas que vivem com o HIV/SIDA na província angolano do Uíge, de tomarem os antirretrovirais que permitem o aumento da imunidade e alargam o tempo de vida dos pacientes, enquanto pedem ajuda e emprego.
O grito de socorro foi lançado por portadoras do vírus, num encontro recente com primeira dama da província, Zulmira da Roch, e a directora do Gabinete Provincial da Saúde Pública, Kavenaweteko Adelaide Malavo.
Elas lançaram um grito de socorro às autoridades e pessoas de boa-fé.
Engraça Fernando, viúva e mãe de oito filhos, conta o drama que enfrenta.
“Quem me transmitiu foi mesmo o meu esposo, foi um capitão das FAA, e chefe do posto de saúde de Maquela do Zombo, lá no serviço dele até hoje não sai nada de apoio, tenho coragem de ir à lavra e vender, mas o problema está na falta de dinheiro, para tomar o medicamento também precisa ter um pouco de leite ou um acompanhante para fortificar o organismo, precisamos mesmo de uma grande ajuda", afirmou.
Por seu lado, Albertina Pinto queixou-se de ser vítima de decriminação pelo próprio marido e disse não conseguir emprego.
“Em termos de medicamentos, nós temos recebido sim, mas tem momento em que nos encontramos encurraladas, venho pedir encarecidamente porque eu já concorri várias vezes e nunca tive êxito, pelo menos que eu possa trabalhar como colaboradora", contou Pinto que foi vítima trombose.
"A minha vida tem sido muito difícil mesmo peço a vossa ajuda por favor, tenho dois filhos, as vezes me pergunto como será a minha vida sem emprego? Ele me ri mesmo na cara, foi ele mesmo quem me passou a doença, mas ele me diz vai lá se queixar no tribunal porque ele já sabe que se eu o fizer eu passarei a receber uma minginha que não vale quase nada” contou-
Maria Paulo, de 40 anos, um exemplo de superação, pediu às autoridades locais para criarem centros de acolhimentos e aconselhamentos para acolher as pessoas estigmatizadas por conta da doença.
Por sua vez, Bernardo Adolfo de Andrade, coordenador da rede de pessoas vivendo com o VIH na província, diz que a sua organização conta com 50 membros controlados pela rede, tendo como a principal dificuldade a dieta alimentar.
“De momento estamos a controlar 50 elementos, as dificuldades são várias, as mulheres principalmente não tem nenhuma dieta alimentar na primeira trave, principalmente quando ela entra no primeiro tave, que é a primeiras medicações, elas pensam que talvez a vida terminou por aí e pensa em desistir por falta mesmo de comida na mesa é uma das preocupações, nós temos uma cooperativa que precisamos para poder reactivar, esperamos que possam nos ouvir para que possamos implementar e se expandir em todos os municípios" contou.
No entanto, Zulmira da Rocha, primeira dama da província e a diretora provincial da saúde, Kavenaweteko Adelaide Malavo, que tomaram notas das preocupações, prometeram fazer chegar às instâncias superiores do governo local.
Num universo de oito mil e 939 pessoas testadas, foram diagnosticados 178 casos positivos, dos quais constam apenas 105 pacientes em tratamento durante o primeiro trimestre do ano em curso, de acordo com os dados do Programa Provincial de Luta contra a Sida no Uíge.
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