Morreu Jah Bee, o músico moçambicano, que disse, em 2004, que “Reggae é um meio para atingir o espiríto. Rasta é uma forma de estar no mundo”.
Jah Bee foi vítima de complicações relacionadas com a Covid-19, na cidade da Beira, nesta segunda-feira, 2. Tinha 60 anos de idade.
Nascido a 29 de Abril de 1961, em Angónia, na província central de Tete, de pais naturais de Mocuba, na vizinha Zambézia, Alfredo ‘Jah Bee’ Binda era dos poucos cantores de reggae com expressão em Moçambique.
Ele não escapou às más conotações associadas ao género musical e ao seu cabelo, daí que tenha, certa vez, afirmado que “Jah disse 'não julgueis!’ Então quem é esse que chama nomes aos outros? Rasta não significa fumar. Rasta está acima do ser”.
Além de reggae, Jah Bee, que decidiu seguir a música, na década de 1970, em Nampula, na companhia de Gimo Remane (fundador do Eyuphuru), interessou-se por soul music e rock, tendo como referência os americanos Otis Redding, Percy Sledge ou os ingleses Beatles.
Aprendeu a tocar guitarra, mas dizia que o seu instrumento é a voz. O seu primeiro grupo, Kripton, foi criado em Chimoio, Manica, na companhia de Nelson de Sousa (o também humorista Chaguatika N’dzeru) e Lote, um dos fundadores do agrupamento Ghorwane.
Bee que não é abelha
O nome Jah Bee foi lhe atribuído no Zimbabwe, onde viveu entre 1987 e 1989.
“Quando vivi lá, todos os rastas tinham uma alcunha. Eu recebi esta, Jah Bee”, disse o cantor que queria ser Jah B, sendo o B de Binda, seu apelido, mas já existia outro cantor com o mesmo nome. “O Bee neste caso não tem a ver com abelhas”.
No Zimbabwe, Jah Bee não gravou, mas tocou em hóteis com o seu grupo Blues Revolution. A sua primeira gravação foi, em 1992, nos estúdios da Rádio Moçambique, na cidade da Beira, e só viria a lançar um álbum depois do ano 2000, um conjunto de canções de amor e intervenção social.
Num dos temas, “Por um mundo de justiça”, Jah Bee canta “como a vida vai ter graça se vocês só pensam em vós”.
Activista social
Além de músico, Jah Bee era activista social, técnico de contas e jurista.
Em 2004, ele foi um dos fundadores do Centro de Integridade Pública (CIP), uma das principais organizações de defesa de direitos humanos e monitoria da governação em Moçambique.
Jah Bee “foi mentor de gestão financeira” e ajudou a sedimentar a relação com os parceiros de financiamento, diz o CIP em comunicado.
Para o CIP, com a morte de Jah Binda “foi se um combatente anti-corrupção (…) a sua rastafariana alma expelia fraternidade e uma irmandade que não olhava a cores, nem religiões”.
Desde 2020, Alfredo ‘Jah Bee’ Binda era presidente da mesa da Assembleia Geral do CIP.