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Moçambique: Cidadãos queixam-se do uso de armas de fogo para travar manifestações


Um manifestante mostra as balas reais atiradas pela polícia durante a manifestação, Novembro, 2024
Um manifestante mostra as balas reais atiradas pela polícia durante a manifestação, Novembro, 2024

Participar em manifestações de contestação política virou, nos últimos tempos, equivalente a uma entrada a um corredor de morte, queixam-se cidadãos moçambicanos.

Desde Outubro do ano passado, em todo o país, multiplicam-se histórias de fatalidades resultantes de baleamento no meio de manifestações, que iniciaram após a oposição ter afirmado que as eleições presidenciais foram fraudulentas.

Moçambique: Cidadãos queixam-se do uso de armas de fogo para travar manifestações
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António Ussaca, jovem residente no bairro de Inhagoia, um dos subúrbios da cidade de Maputo, viu, recentemente, um amigo morrer ao seu lado.

“A manifestação estava a correr de forma pacífica, até chegar a polícia da Unidade de Intervenção Rápida. Tentamos fugir por um beco e, de repente, fomos apontados por uma AKM que acabou atingindo mortalmente um dos nossos amigos”, conta o jovem à VOA.

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De Fevereiro a esta parte, houve uma redução de manifestações pós-eleitorais, comparativamente ao mês de Dezembro, por exemplo, mas ainda assim, dos poucos casos que acontecem, há sempre vítimas. Aos olhos da população, a culpa tem sempre a cara da polícia.

A plataforma Decide, que monitora a resposta das autoridades nas manifestações, revela que só neste mês de Março, pelo menos, 16 pessoas foram baleadas, na cidade de Maputo, o que considera uma resposta desproporcional da Polícia da República de Moçambique.

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Esta desproporcionalidade policial é criticada por quase todos os sectores da sociedade, até mesmo dentro do próprio Governo, como expressou, nesta semana, o Ministro da Justiça, Assuntos Constitucionais e Religiosos, Mateus Saize .

“Não é normal que se usem balas verdadeiras (em manifestações). Há outros meios, como balas de borracha, gás lacrimogénio, para a dispersão das massas, então, o Governo está a criar essas condições para que, havendo situações de tumultos, a polícia possa usar esses meios”, disse o ministro.

Falta de perícia

Numa altura em que a lei da bala letal é a que prevalece na resposta às manifestações, algumas correntes dizem que há “ordens superiores” para que assim seja, mas outros, apontam apenas o despreparo policial, como a causa.

A Reportagem da VOA em Maputo conversou com o Capitão-tenente na reserva, Abdul Machava, que, por um lado, aponta a continuidade de uma ligação umbilical entre oficiais superiores da polícia e o partido no poder, como um dos factores que dificultam a sua transformação em entidade despartidarizada com uma atuação republicana.

“As razões das chamadas ‘ordens superiores’ vêm da subserviência das forças policiais ao poder político e não ao Estado”, explica este oficial na reserva, apontando também, o défice de formação em direitos humanos, a falta de perícia e de meios adequados como outras razões.

Machava acrescenta que “no domínio da competência, temos também, a fraca qualidade de formação”, e após isso “levam 10 a 15 anos sem ir à carreira de tiro - isso significa que, a pessoa, no dia em que estiver numa situação em que pode usar a arma de fogo, não tem perícia absolutamente nenhuma”.

A Polícia da República não respondeu ao nosso pedido de comentário.

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