O aviso já tinha sido dado. O candidato presidencial apoiado pelo partido PODEMOS, Venâncio Mondlane, pedira com insistência para que todos se manifestassem caso o Conselho Constitucional proclamasse a Frelimo e o seu candidato presidencial, Daniel Chapo, vencedores das eleições gerais de 9 de Outubro, e foi isso que aconteceu.
De quase todo o país chegam relatos indicando que milhares de pessoas saíram às ruas para protestar. Há relatos de pilhagem, vandalização de infra-estruturas públicas, privadas e outras do partido no poder, barricadas, incêndios e muitos tiros durante o confronto com manifestantes.
Nesse confronto, a Polícia, além de gás lacrimogéneo, disparou balas reais.
A reportagem da VOA esteve na noite desta segunda-feira no Hospital Central de Maputo e viu muitos feridos transportados em ambulâncias a chegarem ao Banco de Socorros. Viu também o cadáver de um jovem que foi vítima dos disparos da Polícia.
“Eu estava em casa. Eu ouvi tiros. Esses da UIR (Unidade de Intervenção Rápida) começaram a balear, começaram a dar tiros. Começaram a atirar gás lacrimogéneo, ali na zona da carpintaria”, conta Matilde, prima do finado.
Ela detalha que que “foram três carros - aqueles carros secretos (...) desceram e à volta de quatro polícias atiraram (...) aquele outro jovem ali foi baleado, no serviço. Foi no Zimpeto. É um parente meu. É primo e está morto.”
Tito Eduardo, 31 anos de idade, diz que é guarda de uma empresa privada localizada numa zona periférica de Maputo e foi “baleado no trabalho”, pela Polícia. “acho que foram quatro balas”.
Eunice Abílio, residente no bairro 25 de Junho, arredores de Maputo, afirma que nem sequer estava a manifestar-se e que ela e a filha de 15 anos foram atingidas por balas.
“Eu estava em frente de casa mesmo. E aí começaram a disparar. A bala me atingiu e a minha filha” de 15 anos, conta.
Dados preliminares a que a VOA teve acesso indicam que entre 15 e 23 horas de segunda-feira (23), o Banco de Socorros do Hospital Central de Maputo recebeu pelo menos 16 pessoas atingidas por balas disparadas pela Polícia.
Os Serviços de Urgência da maior unidade sanitária do país não confirmam o tipo de ferimentos, mas prometem dar mais detalhes nesta terça-feira, 24.
De outras províncias há relatos de mortes, mas não confirmadas pelas autoridades.
Desde que as manifestações pós-eleitorais convocadas pelo candidato presidencial do Podemos, Venâncio Mondlane, começaram, a 21 de Outubro último, já houve registo de pelo menos 130 mortos, a maior parte de disparos da Polícia, segundo dados fornecidos por organizações não-governamentais que acompanham o processo.
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