A ativista moçambicana Anabela Lemos acusou o Estado moçambicano de violência repressiva e denunciou muitos mortos e feridos, enquanto continua a impunidade.
Lemos fez estas acusações na quarta-feira, 4, em Estocolmo, na Suécia, no início da sua intervenção após receber o prémio Right Livelihood Award, em nome da organização Justiça Ambiental! (JA!), distinguida "por reforçar as comunidades para que façam valer o seu direito de dizer não aos megaprojectos de exploração".
"No momento em que falo aqui, o meu país enfrenta uma crise pós-eleitoral sem precedentes. Moçambicanos pedem mudanças nas ruas, manifestantes enfrentam a violência repressiva do Estado", sustentou Lemos.
Ao justificar o prémio, a organização sueca escreveu no seu site que Anabela Lemos foi reconhecida por se opor, com a "Campanha Diga Não ao Gás", a um "projecto de extração de gás de 24 mil milhões de dólares em Cabo Delgado, apoiado pela TotalEnergies".
"A organização construiu alianças com a sociedade civil em mais de 23 países para desafiar este projeto. Ao fornecer provas fundamentais no terreno dos danos do projeto às comunidades locais, a JA! expôs violações dos direitos humanos e crimes empresariais, atrasando com sucesso o progresso do GNL de Moçambique", disse a organização.
No seu discurso, Anabela Lemos afirmou que luta para que "as pessoas de todo o mundo entendam que o sistema em que vivemos está errado".
"Precisamos mudar este sistema que coloca o lucro acima das pessoas e do ambiente. As pessoas precisam sair das suas zonas de conforto e ver como os outros vivem para compreender e criar mudanças", afirmou a laureada, que concluiu diznedo que "precisamos de mudar e a mudança é possível".
Na cerimónia, além de Anabela Lemos e da organização JA!, foram premiados Joan Carling, das Filipinas, "por levantar as vozes indígenas face ao colapso ecológico global e pela sua liderança na defesa dos povos, terras e cultura", Issa Amro, da Palestina, através do projeto 'Youth Against Settlements' (Jovens contra os colonatos), "pela sua inabalável resistência não violenta à ocupação ilegal de Israel, e a britânica 'Forensic Architecture' (Arquitetura Forense), fundada e dirigida por Eyal Weizman, "por ser pioneiro em métodos forenses digitais para garantir a justiça e a responsabilizaçãode vítimas e sobreviventes de violações dos direitos humanos e ambientais".
Anabela Lemos nasceu em Maputo, em 1953.
A jornada de ativismo começou em 1998, quando liderou uma campanha popular contra uma fábrica de incineração de resíduos apoiada pela Dinamarca perto da sua casa na Matola, um centro industrial perto da capital moçambicana.
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