Organizações de defesa do ambiente exigem a retirada do “Estado francês, bancos e empresas de combustíveis fósseis” de projetos de hidrocarbonetos no norte de Moçambique, por causa do seu potencial de "desgraçar a população, promover a corrupção e destruir o planeta".
No relatório “Do El Dorado do Gás ao Caos - Quando a França empurra Moçambique para a armadilha do gás”, as organizações Justiça Ambiental (Moçambique), Amigos da Terra França e Amigos da Terra Internacional denunciam o esforço das “autoridades públicas francesas para garantir que a sua economia, banqueiros, indústria de combustíveis fósseis e armamento sejam os maiores beneficiários da exploração do gás.”
As três organizações dizem que os bancos BNP Paribas, Société Générale ou Crédit Agricole, e a gigante de combustíveis Total, “são alguns dos maiores beneficiários dos impactos devastadores da indústria na província de Cabo Delgado, no norte de Moçambique”.
O relatório diz que “as praias de areia fina da província de Cabo Delgado, no extremo norte de Moçambique, tornaram-se o el dorado da indústria do gás e de todas as empresas que giram em torno dos referidos mega projectos de energia”.
O investimento na região, com uma das principais reservas mundiais de gás natural liquefeito, é estimado em, pelo menos, 60 mil milhões de dólares, algo jamais visto na África subsaariana. Para a sua materialização, milhares de residentes de Palma, por exemplo, foram transferidos para outras zonas, num processo criticado por vários ativistas.
“As comunidades estão sendo roubadas de suas terras, acesso ao mar e seus meios de subsistência,” lê-se no relatório, que cita uma idosa afirmando que “deram-me uma casa, mas não tem terreno para produzir o que seja e suprir as minhas necessidades. Consideram suficiente os dois sacos de arroz que me deram. Pensarão eles que isso me satisfaz?”
Além desta situação, a população dos distritos abrangidos pelos projetos de gás é, desde 2017, vitima de ataques de um grupo de insurgentes. Mais de 1100 pessoas foram mortas e centenas de infraestruturas destruídas.
No que toca ao ambiente, o estudo alerta que os projetos de gás em curso em Cabo Delgado têm o potencial de emitir o equivalente a sete anos de emissões de gases de efeito de estufa da França e 49 vezes as emissões anuais de Moçambique.
“Em total contradição com as propostas do presidente Emmanuel Macron”, que prometeu “ajudar Moçambique a não se tornar dependente da exploração das suas jazidas, a França empurra o país para a armadilha do gás, tudo em nome dos interesses económicos dos seus industriais da energia e dos seus banqueiros”, diz o estudo.
“Para acabar com a hipocrisia, o governo francês deve pôr fim à diplomacia do caos que serve os industriais dos hidrocarbonetos e do armamento”, pedem os autores do relatório.
E “as empresas francesas implicadas, os bancos privados e os industriais da energia, como a Total, devem cessar imediatamente as suas atividades nos projetos de exploração de gás em Moçambique, sob pena de serem responsabilizados com base na lei do dever de vigilância”.