Trabalhadores da Empresa Nacional de Mecanização Agrícola – Empresa Pública em Malanje entraram em grevehoje, 20, e ameaçam saír às ruas numa manifestação caso não lhe sejam pagos os seus salários.
Os 55 trabalhadores não recebem há 12 meses e a sua situação é agora dramática. Alguns viram os seus bens confiscados para pagamento de dívidas e rendas, enquanto outros viram os seus filhos impedidos de ir à escola por falta de pagamento de propinas.
Num caderno reivindicativo de quatro pontos entregue em Março último à entidade patronal, as direcções provinciais da Agricultura e da Administração Pública, Emprego e Segurança Social e União dos Sindicatos de Malanje os trabalhadores exigem o pagamento de todas as mensalidades em atraso de Maio ao 13º mês de 2014 e de Janeiro a Março deste ano.
A segunda secretária da comissão sindical da Mecanagro, Lucrécia António de Brito confirmou que, para além da greve greve, os trabalhadores poderão manifestar-se nos próximos dias se o dinheiro não for pago.
Lucécia de Brito diz que o primeiro documento exigindo o pagamento dos salários foi entregue a 4 de Março e que passados 15 dias “o chefe de Luanda pediu-nos mais 10 dias que praticamente já se passaram”.
Na quinta-feira, 16, num encontro entre o primeiro secretário da comissão sindical da empresa, Manuel José Pinto, e o representante provincial da União dos Sindicatos de Malanje foi anunciada a greve hoje iniciada.
As famílias dos operários e funcionários administrativos estão numa situação crítica com dívidas avultadas.
Gaspar Mendes Francisco, 37 anos de idade, dos quais 14 na Mecanagro que lacrimejava quando falava aos microfones da VOA, disse que não consegue sustentar a família.
Vive numa casa arrendada e “a senhora está sempre a me tirar sossego”.
“Me levaram tudo que é de casa, levaram a estante, levaram o televisor, o cadeirão tudo, e agora estou a lamentar como fazer”, disse.
O operador de máquinas Fernando João Gaspar disse que os seus filhos “não assistem às aulas por não ter pago as propinas”.
Luís António da Cruz Alves afiram ter sido obrigado a sair de casa que arrendava.
“Fui chutado e nesse momento estou com os meus filhos na casa dos meus tios só por causa dos kilápis (dívidas) que eu tenho”, confirmou, acrescentando que“tenho problemas na polícia por causa disso”.
O Presidente do Conselho de Administração da Mecanagro Carlos Alberto Jaime “Calabeto” disse em Agosto do ano passado durante o 14º Conselho Consultivo realizado na fazenda Pedras Negras em Pungo-Andongo, município de Cacuso, que não há dinheiro suficiente para pagar salários dos trabalhadores.
“A Mecanagro possui uma força de trabalho de aproximadamente mil trabalhadores com um fundo de salários anuais de 840 milhões de kwanzas, tornando-se insustentável, atendendo a degradação paulatina do seu parque de máquinas e da sua estrutura orgânica”, justificou na altura.
A União do Sindicatos de Malanje confirmou que a greve é legal, assim como as exigências constantes no caderno reivindicativo.