Os insurgentes que atacam Caba Delgado, no norte de Moçambique, ameaçaram lançar novas ofensivas naquela província e outros locais, num vídeo divulgado pelos canais de propaganda do Estado Islâmico, supostamente filmado nas matas ao longo do leito do rio Messalo, entre os distritos de Macomia e Muidumbe, região agora alvo da operação Vulcão IV, das forças conjuntas que combatem os rebeldes.
O vídeo de 2:51 segundos foi supostamente filmado no mesmo local onde a 6 de Dezembro jovens islamitas prestaram juramento de fidelidade ao novo califa do Estado Islâmico, Abu al-Hussein al-Husseini al-Quraishi.
O protagonista do vídeo, que fala em kiswahili e que se apresenta com uma arma em punho, alerta que o grupo vai aumentar novos ataques contra aqueles que classifica de “cristãos”, para se vingar da morte de seus líderes.
No vídeo, onde se podem ouvir choros de crianças no fundo durante a discurso do líder, os rebeldes aparecem em sessão de treino militar e a exibirem o potencial de seu material bélico, além de táticas de guerra com gritos de Allahu Akbar, na tradução livre “Deus é o maior”.
A área onde se acredita que tenha sido filmado o vídeo, é alvo desde a semana passada operação Vulcão IV, lançada pela tropa moçambicana, com o apoio dos militares da Comunidade para o Desenvolvimento da Africa Austral e do Ruanda, para “desativação e destruição de bases terroristas do inimigo que aterroriza o norte do rio Messalo, distrito de Muidumbe, e o ocidente de Chai, no distrito de Macomia”.
A ameaça como alerta
O analista político Wilker Dias observa que, apesar do terrorismo viver de propaganda para “causar pânico e terror” a ameaça de ataques deve servir como alerta.
“Deve servir como alerta, como chamada de atenção sobre os prováveis ataques mais visíveis deste grupo. É este o papel das forças governamentais agora, continuar com os trabalhos de ataque (na operação Vulcão)”, diz Dias, lembrando que a inteligência trabalha para verificar a ameaça.
Para aquele analista, que reconhece que a junção da força do bloco regional e do Ruanda têm tido muito impacto no bloqueio de ocupação de mais territórios por rebeldes, ainda há muito trabalho para conter a insurgência em Cabo Delgado.
O vídeo “revela ser uma chamada de atenção de que o terrorismo ainda continua, o terrorismo ainda não acabou, e ainda devemos, como nação, trabalhar muito com vista a estancar este mal que assola Cabo Delgado”, vincou.
Corrida ao recenseamento militar
Entretanto, vários distritos de Cabo Delgado reabriram este ano o recenseamento militar obrigatório, dois anos depois da sua interrupção na sequência da fuga massiva da população devido ataques de rebeldes.
Vários jovens em Cabo Delgado estão a jurar patriotismo ao se recensear, com o intuito de voltar a combater o grupo de rebeldes ligados ao Estado Islâmico que tem aterrorizado a província desde Outubro de 2017.
Ousmane Lourenço, jovem deslocado em Pemba, justificou a sua adesão na abertura do recenseamento na terça-feira, 10, por “querer ir encarar os insurgentes” que lhe forçaram a se deslocar com a sua família e “vir viver como deslocado, sem nenhum programa”.
Outra deslocada, Martina Simão, quer com o treinamento militar poder ajudar a travar a guerra e ajudar a salvar “nossas famílias e crianças que estão a morrer”, com os ataques rebeldes.
O secretário de Estado de Cabo Delgado, António Supeia, disse no lançamento do recenseamento em Pemba que a província, conhecida como o berço da luta de libertação nacional contra o colonialismo português, aspira “continuar a gerar combatentes para a paz e pelo desenvolvimento”.
A província prevê recensear 15 mil jovens, incluindo três mil raparigas, quase 7 por cento da meta nacional do Ministério da Defesa de Moçambique que visa abranger 221.140 jovens para o Serviço Militar Obrigatório, num contexto em que o terrorismo se expande para outras províncias do país.
Mais de 4.500 pessoas foram mortas e quase um milhão foram forçadas a fugir das suas casas desde que militantes ligados ao Estado islâmico lançaram uma insurreição na província de Cabo Delgado, rica em gás, em Moçambique, em 2017.
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