O processo de impugnação do presidente Donald Trump, iniciado pelos Democratas no Congresso, está a conhecer quase diariamente novas acusações e contra-acusações que poderão fazer o processo vir a ser visto como apenas uma acção partidária.
O Secretário de Estado Mike Pompeo acusou hoje os Democratas de quererem intimidar os funcionários do seu departamento ao exigiram que cinco deles compareçam perante os comités que investigam o presidente e indicou que não permitira isso afirmando que a comparência desses funcionários “não é viável”.
Isso deverá resultar numa luta nos tribunais entre o congresso e o executivo.
A ligação ucraniana
Depois das investigações sobre a alegada interferência russa nas eleições de 2016 em pouco ou nada terem resultado, a iniciativa para a impugnação está centrada num relatório de um informador anónimo que trabalha para os serviços de inteligência americanos que alegou num documento ter sido informado por várias pessoas que o presidente americano tinha “pedido a interferência de um país estrangeiro “– a Ucrânia – nas próximas eleições.
A queixa foi de imediato apanhada pelos Democratas como motivo para iniciar um processo de impugnação ao presidente deixando para trás outras investigações a serem feitas ainda ao alegado conluio Rússia Trump e obstrução de justiça por parte do presidente.
A Casa Branca divulgou uma transcrição parcial da conversa que o Presidente Trump manteve com o presidente ucraniano em que lhe pediu que investigasse possíveis ilegalidades na contratação do filho do ex-vice presidente Joe Biden para o conselho executivo de uma companhia de gaz ucraniana que estava a ser investigada na Ucrânia por corrupção.
O procurador que investigava essa alegação foi despedido por pressão do então vice-presidente Joe Biden e de potencias ocidentais por alegadamente estar ele próprio (o procurador) envolvido em corrupção. Biden disse publicamente ter ameaçado o então governo ucraniano de suspender a entrega de ajuda caso o procurador não fosse demitido.
Posteriores governos ucranianos dizem que a companhia de gaz onde o filho de Biden tinha uma posição não estava implicada em qualquer ilegalidade.
Congressistas republicanos dizem por seu turno que o presidente Trump nada de ilegal fez ao pedir ao seu homologo ucraniano que investigasse a questão.
Nancy Pelosi, presidente da camara dos representantes discorda afirmando que não é só o que esta na transcrição do telefonema que é importante “mas também a sequencia de acontecimentos”.
“Ele suspendeu umas centenas de milhões de dólares de ajuda a um país e depois uns dias depois diz - por outras palavras - pode me ajudar com a minha campanha? . Há uma sequencia de acontecimentos”, disse Pelosi.
Os comités do congresso envolvidos na investigaçãopediram agora documentos do departamento de estado sobre as interacções com a Ucrânia
Elaine Karmack é uma especialista em governação na Instituição Brookings, um centro de estudos sediado aqui em Washington disse que o presidente usou “a sua posição de um modo que viola a constituição dos Estados Unidos”.
“Ele não tem o direto de levar dinheiro apropriado pelo congresso e ameaçar não entrega-lo por razões politicas pessoais”, acrescentou
Mas o colunista Frank Miele do sitioRealclearpolitics.com disse ser “ridículo” iniciar-se a impugnação do presidente Trump por ter pedido ao presidente ucraniano para investigar alegações de corrupções envolvendo um antigo vice presidente dos Estados Unidos.
“Isso para mim é esquisito”, escreveu Miele que acrescentou: “Seria de pensar que todos gostaríamos de saber se há algo de verdadeiro na queixa de que Joe Biden pressionou a Ucrânia para demitir um procurador que tinha controlo sobre a investigação ao filho de Biden.”
Para o colunista as acusações contra Trump imdicam que para os democratas Biden “tem impunidade de qualquer investigação futura pelo executivo porque é candidato á presidenciais e oponente político do presidente”.
Austrália entra nas investigações
Mas se o telefonema com o presidente da Ucrânia causou a actual tentativa de impugnação hoje o New York Times disse que Donald Trump pediu também ajuda ao primeiro ministro australiano, Scott Morrisson,para investigar de como é que se iniciou a denuncia de conluio entre a sua campanha e a Rússia.
Isso começou quando um trabalhador da campanha de Trump, George Papadouplos disse ao então embaixador australiano em Londres em 2016Alexander Downer ter sido informado que a Rússia tinha informações sobre Hillary Clinton obtidos de milhares de e-mails da campanha de Clinton.
Downer informou a policia federal americana desta alegação e foi isso que disparou a investigação do procurador especial Robert Muller à alegada conspiração com a Rússia.
Downer disse hoje à radio estatal australiana não ter nada a acrescentar
“Não é que eu não queira continuar a repetir o que já disse mas na verdade não tenho nada a acrescentar”, disse.
“Tive uma conversa com esta pessoa e passei essa conversa ou essa parte da conversa aos americanos. Não tenho mais nada a acrescentar. Não vos posso dar mais informação e não sei nada sobre as conversas que o primeiro ministro Scott Morrison teve com os americanos incluindo o presidente Trump”, acrescentou.
O procurador geral dos Estados Unidos. William Barr, tem estado a levar a cabo uma investigação à possibilidade de que todas as alegações de conluio entre a Rússia e a companha de Trump foram na verdade uma operação destinada a destruir a campanha do actual presidente e para isso esteve já em Inglaterra e Itália como parte dessas investigações.
O governo australiano disse hoje que vai levar a cabo o seu melhor para cooperar com o departamento de justiça americano nesta questão
O senador Republicano Lindsey Grahamdiz que a noticia publicada sobre o contacto entre Trump e o primeiro ministro australiano visam apenas tentar bloquear essa investigação.
´É obvio que os liberais estão a iniciar uma campanha contra Barr para o impedir de ir a Itália, Austrália e Reino Unido para investigar se houve algo de errado numa investigação à campanha de Trump.”, disse Graham para quem Barr e “está a fazer ao pais um grande serviço para tentar saber o que se passou em 2016 no que diz respeito a uma investigação de contra inteligências envolvendo a campanha de Trump”
“Não há nada de errado em Barr investigar isto e na verdade seria errado se ele não o fizesse”, acrescentou
Não se sabe quando ou se Barr irá emitir o seu próprio relatório sobre a questão da campanha de Trump.Fontes republicanas dizem que isso poderá acontecer dentro de duas semanas.
Uma coisa é certa: a iniciativa dos democratas de iniciarem um processo de impugnação ao presidente vai ainda fazer correr muita tinta e muitas palavras com factos e teorias de conspiração.