A fome e o estigma de discriminação contra os portadores do HIV-SIDA, na província angolana do Huambo são apontados como os principais fatores da alta taxa de abandono do tratamento nas principais unidades sanitárias da região.
Dados do Departamento de Saúde Pública da província indicam que, em 2023, de um total de mais de mil pacientes, cerca de 900 abandonaram o tratamento.
O estigma da discriminação contra pessoas portadoras de HIV continua a ser um dos grandes desafios das autoridades no combate e tratamento da doença, sobretudo nos pacientes de baixo rendimento.
Renato, que prefere não dizer o apelido, é paciente há vários anos, diz que a discriminação ocorre de forma reiterada e aponta a falta de informação sobre a doença, a começar pelos próprios profissionais de saúde.
"A discriminação quando vem do lado deles, dos profissionais de saúde, quem está ao lado faz pior. Acho que nas escolas deviam implementar também uma disciplina sobre HIVpara ver se melhoram isso", lamenta Renato.
Angelina Costa acrescenta o drama de ter de tomar medicamentos com o estômago vazio e aproveita para lançar um grito de socorro às autoridades.
"Tomar medicamentos também precisa de leite ao lado, pois o corpo reage diferente. Precisamos mesmo de grande ajuda", pede a paciente.
O diretor da Saúde Pública no Huambo reconhece esses problemas, mas prefere apresentar uma narrativa mais optimista com a chegada de um grupo de ajuda mútua que irá atuar junto das comunidades.
"Pensamos que com o grupo de ajuda mútua essa situação venha a melhorar", estima Valentim Católo.
Entretanto, a organização não governamental ANASO, que tem como um dos seus objetivos lutar contra a discriminação dos seropositivos, aponta que Angola lidera a taxa de abandono da terapia anti-retroviral na região da SADC.
O coordenador António Coelho aponta algumas razões.
"Noventa por cento das pessoas que vivem nesta condição em Angola é de baixa renda, vivem de algum apoio do social através de um pequeno microcrédito, as cestas básicas. Agora, conseguimos introduzir algumas famílias no programa Kwenda, mas não está fácil", reconhece Coelho.
Neste momento, as autoridades têm um registo de cerca de 13 mil pessoas que vivem com o HIV SIDA na província do Huambo.
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