O Governo moçambicano expressou hoje preocupação com vaga de ataques a autocarros de transportes de migrantes que partem de Maputo com destino a Durban, na vizinha África do Sul.
A preocupação foi manifestada pela Ministra dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, Verónica Macamo, em reação a mais um ataque, ocorrido na noite de sábado passado, que deixou um autocarro totalmente em chamas e muitos passageiros em pânico, no território sul-africano.
“Nós estamos preocupados, como não podia deixar de ser, porque não podemos deixar concidadãos nossos sem protecção” disse a chefe da diplomacia moçambicana, em conferência de imprensa, em Maputo.
O incidente foi o segundo do género, em menos de duas semanas, e até ao momento, desconhecem-se os responsáveis, muito menos as suas reivindicações.
A diplomacia moçambicana acredita não se tratar de actos xenófobos e que sejam actos isolados de banditismo, mas pede explicações a Pretória.
“Através das nossas entidades consulares e eu, pessoalmente, estamos em contacto com as autoridades sul-africanas, para termos esclarecimentos sobre o que se passa e garantias de restabelecimento da situação de segurança,” disse a ministra.
Perante esta onda de violência, a associação de transportadores internacionais, que fazem a ligação Moçambique-Durban, suspendeu as suas actividades, à espera que a situação de segurança melhore.
Cooperação em risco
Especialistas esperam que haja uma acção enérgica por parte do Governo de Moçambique para estancar a onda de violência.
"Isso tem alguma gravidade em termos de até bloquear aquilo que é o espírito de cooperação ao nível da SADC e de circulação de pessoas e bens, e portanto, com impacto económico e político muito forte", diz o jurista e analista político Tomás Vieira Mário.
O também jurista e analista político Egídio Plácido defende acções enérgicas por parte das autoridades moçambicanas, mas não acredita que isso possa acontecer, dado que os partidos Frelimo e ANC, que suportam os governos de Moçambique e da África do sul, respectivamente, têm relações fraternais.
Ele refere que "essas relações não permitem que o Governo de Moçambique possa agir de uma forma enérgica; eu penso que vai fazer apenas algumas condenações, mas nunca uma acção verdadeiramente enérgica no sentido de pressionar a África do Sul a agir contra as pessoas que perpetuam a violência contra os moçambicanos".
Por seu turno, o jurista Ilídio de Sousa, diz que o Governo sul-africano também tem algum papel a desempenhar nos esforços para estancar a violência contra moçambicanos, recordando que, recentemente, o Presidente Cyril Ramaphosa promoteu fazer algumas reformas no âmbito legislativo, "porque se reclama que muitas empresas têm uma quota muito grande de contratação de estrangeiros".
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