Analistas moçambicanos dizem que um Governo de Unidade Nacional pode ser elemento sinalizador de compromisso de inclusão e contribuir para um uma efectiva reconciliação nacional.
Segundo analistas, uma decisão nesse sentido seria a mais acertada, uma vez que a visão dominante no país é a de que os recursos existentes no Estado, estão a ser distribuidos de uma maneira menos inclusiva, e quem tem acesso aos recursos, tem acesso ao próprio Estado.
Filipe Nyusi e o partido Frelimo, reeleitos nas eleições de 15 de Outubro, preparam o seu elenco governativo para mais cinco anos na presidência de Moçambique.
Desde o início de votação democrática, em 1994, os governos de Moçambique têm exclusivamente membros da Frelimo, e há muitas vozes a pedir a inclusão de figuras de outros partidos.
O economista Constantino Marrengula diz que, "neste caso, incluir membros de outros partidos no Estado pode sinalizar abertura para a partilha de decisões e de oportunidades de acesso aos recursos".
Realçou que "como anda muito esse discurso de partidarização e de exclusão, penso que é uma coisa positiva, mas não-me parece que seja determinante para a resolução dos conflitos que levaram à instabilidade que estamos a viver lá no norte e centro do país".
Na sua opinião, as causas dos conflitos são bastante mais profundas e não podem ser reduzidas à questão da partidarização; têm a ver com um modelo económico e político que em si mesmo produz excluidos e não cria condições para crescimento e desenvolvimento que envolva muito mais pessoas".
Por seu turno, o presidente do Partido para a Paz, Democracia e Desenvolvimento (PDD), Raúl Domingos, diz que um Governo de Unidade Nacional "seria ideal, porque pode contribuir para a reconciliação e paz efectiva".
"No Parlamento estão representadas as principais forças políticas, e o Governo parece ser aquele filtro impenetrável, onde ninguém sabe o que está a acontecer. Tanto é assim que no Governo do Presidente Armando Guebuza, houve a questão das dívidas ocultas, e a justificação foi a de que o assunto não podia ser levado ao Parlamento porque está lá a Renamo", afirmou Raúl Domingos.
Entretanto, o Presidente do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD) Adriano Nuvunga, referiu que a questão do Governo de Unidade Nacional, "se falhou quando houve a transição depois da assinatura do Acordo Geral de Paz, em 1992, em Roma, até às primeiras eleições, foi porque a Freimo se recusou a formar um Governo de Transição".
"Novamente, quando Joaquim Chissano venceu as primeiras eleições, em 1994, ele recusou-se a fazer um Governo de Unidade Nacional. Ficou como que uma dependência da história de exclusão política, que tem estado a observar-se ao nível da legislação e dos órgãos eleitorais, até à maneira como se exerce a governação política, económica e social de Moçambique", destacou Adriano Nuvunga.
Explicou que um Governo de Unidade Nacional "não se faz depois de uma eleição fraudulenta, um Governo de Unidade Nacional visa resolver um outro tipo de problemas na sociedade, que têm a ver com a inclusão política, económica e social e não resolver problemas relacionados com fraude eleitoral".
"Pode servir para este propósito, mas a este tipo de inclusão não se pode chamar Governo de Unidade Nacional, porque este passa por, aqueles que estão na posição do poder, entenderem que os que estão na oposição também são pessoas que merecem consideração, e estarem abertos a discutir as regras de jogo do sistema político, o que não é o caso em Moçambique", sublinhou o director do CDD.
Reagindo a rumores de que o Presidente Nyusi poderá incluir no seu Governo membros de outros partidos políticos, Adriano Nuvunga considerou que "isso não significa Governo de Unidade Nacional, porque a ideia de unidade nacional pressupõe um conceito diferente e não o de o presidente, com base no seu centralismo político exacerbado entender que vai incluir A, B ou C. Qual é o critério que vai usar para fazer isso?".
E o presidente do Partido Independente de Moçabique -PIMO, Yaqub Sibindy diz que as pessoas nem têm que ser todas da oposição, salientando que" neste momento, Moçambique precisa de um projecto de desenvolvimento inclusivo. Penso que académicos como Severino Nguenha, Lourenço do Rosário e outros, podem ajudar o país a não entrar na falência".
Refira-se que o Presidente da República toma posse no próximo dia 15.