O Governo de Moçambique diz que a cimeira extraordinária da Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral (SADC), que se realiza nesta quarta-feira, 23, em Maputo, vai ser decisiva, no contexto desta organização regional dar a sua resposta colectiva a uma acção em apoio à luta contra o terrorismo em Cabo Delgado.
Maputo afirma que esta é uma cimeira decisiva depois de várias outras que se vêm realizando desde o ano passado, quando o Presidente da República, Filipe Nyusi, se reuniu com o seu homólogo zimbabweano, Emmerson Munangagwa,como presidente do órgão da SADC para a defesa e segurança.
O porta-voz do ministério moçambicano dos Negócios Estrangeiros e Cooperação, António Macheve, enfatizou que "a expectativa do Governo moçambicano é que se tome uma decisão de apoiar Moçambique nos seus esforços para combater o terrorismo em Cabo Delgado".
Para o analista Fernando Lima, esta posição das autoridades moçambicanas, após algumas reticências relativamente à intervenção da SADC no conflito em Cabo Delgado, significa que o plano está mais claro e mais concreto.
Lima avança que entre a última cimeira e esta semana, "as partes continuaram a trabalhar num plano de intervenção em Cabo Delgado, que não tem que ser aquele proposto pela comissão técnica".
O director do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, diz haver uma expectativa relativamente à cimeira extraordinária da SADC, "mas é uma expectativa moderada, porque as anteriores reuniões eram com a troika e tinham o figurino e o formato adequados para tomar uma decisão sobre a situação em Cabo Delgado, e foi lá onde se apresentou o relatório, mas isso foi diferido para posteriores discussões".
Entretanto, Nuvunga realça que "não nos parece que na reunião de amanhã, onde Moçambique vai deixar de liderar a SADC, porque completa um ano nesta presidência rotativa da organização regional, seja tomada essa decisão" sobre a intervenção no conflito em Cabo Delgado.
Por seu lado, Fernando Lima discorda da narrativa governamental quanto à situação em Cabo Delgado, afirmando que "nós não poderemos saber, cem porcento, da realidade naquela província, uma vez que há muitas restrições, mas mesmo nas restrições, temos conhecimento de ataques e de mortes; aquilo que não temos conhecimento é de acções espectaculares".
Para aquele analista,"se o Governo está a dizer que a situação é de relativa calma porque não há ataques a nenhuma sede distrital, isso é relativo, porque tem continuado a haver ataques e, infelizmente, as Forças Armadas de Moçambique não anunciaram a retomada de nenhum dos grandes centros ocupados pelos insurgentes, nomeadamente localidades no distrito de Muidumbe e a sede do distrito de Mocímboa da Praia".
Além da situação em Cabo Delgado, os Chefes de Estado e de Governo da SADC vão debater temas ligados à integração regional, cooperação e desenvolvimento, bem como segurança alimentar e nutricional, género e desenvolvimento e os progressos na resposta regional ao HIV/SIDA e à pandemia da Covid-19.