A antiga primeira dama e ex-ministra da Educação, Graça Machel, afirmou numa carta que a Frelimo, partido no poder e a que ela pertence, foi "assaltada por um grupo minoritário".
Na carta, a também ativista social desafia o partido a "reconhecer honestamente as derrotas" e "pedir desculpas ao povo", e subscrever a realização urgente de uma reunião nacional de quadros para reflectir sobre a vida do partido.
A viúva do primeiro Presidente de Moçambique, Samora Machel sublinhou ainda "a inércia, inação e complacência dos quadros [do partido] que permitiu que se gerasse e consolidasse a narrativa de que a Frelimo é formada por ladrões, assassinos e arrogantes".
Na qualidade de militante, Graça Machel diz subscrever a proposta defendida por alguns membros do partido de realização urgente de uma reunião nacional de quadros para uma reflexão, de forma aberta, da vida do partido.
"Eu sou membro do partido Frelimo por opção, consciência e convicção. Tal como eu, são milhões de membros, cerca de quatro milhões, com ou sem cartão, e atrevo-me a adicionar os simpatizantes, que comungam dos valores de liberdade, democracia, unidade nacional, paz, igualdade, solidariedade e justiça social, assentes nos Estatutos que regem a organização", diz a carta.
Graça Machel diz, no entanto, que nem todos os membros que compõem a máquina administrativa da Frelimo traíram o Partido, mas a influência da fracção, segundo ela, levou a que se perdesse o sentido de família, a ideia de que a Frelimo são todos os seus membros e de que a máquina de direcção, toda ela, serve os interesses da organização no seu todo.
E ela conclui: "Vamos sacudir a inércia, inacção e a complacência. Vamos assumir a nossa militância".
Frelimo responde opinião “particular”
A Voz da América tentou obter uma reação da Frelimo mas sem sucesso, contudo o jornal O País e a estação televisiva STV citaram a porta-voz que disse que o partido do Governo considera a crítica de Graça Machel "é particular".
“Somos todos membros de uma grande família e a grande família sabe onde é que são os locais apropriados para discutir aquilo que está mal e como é que, em conjunto, podemos corrigir”, afirmou Ludimila Maguni lembrando que existem órgãos apropriados para avaliar a proposta de Graça Machel e de outros históricos.
“Se acharmos que há necessidade de realização de uma reunião de quadros, o partido tem os órgãos apropriados que tomam as decisões”, frisou a porta-voz da Frelimo, acrescentando que nas denúncias que alertam para existência de “infiltrados” no partido é necessário que sejam apontados os nomes para que os órgãos internos façam “diligências”.
Quanto à crítica de Graça Machel de que a Frelimo deve reconhecer derrotas, Maguni afirmou que perspetiva para as autárquicas “era ganhar em todas 65 autarquias, não conseguimos 65, conseguimos 64”.
Ela concluiu ser “difícil dizer que estamos em crise com uma vitória como esta”.
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