O Observatório Cidadão para Saúde (OCS) alerta que será agravada a falta de medicamentos essenciais nos hospitais públicos, e continua a exigir esclarecimento das autoridades sobre o stock.
Os utentes de serviços públicos enfrentam um grande problema de falta de medicamentos, “até para tratar doenças mais comuns, como a malária e outras doenças”, diz António Mathe, coordenador do pilar de participação pública no OCS.
O OCS critica as autorizades por minimizarem a situação fazendo acreditar haver stock suficiente no país, situação que contrasta com o cenário nos hospitais públicos.
A diretora geral da Central de Medicamentos e Artigos Médicos, Laila Monteiro, citada pela estatal Rádio Moçambique, na semana passada, assegurou que há medicamentos para os próximos 18 meses.
“Vários desafios podem concorrer para que haja alguma situação, mas não podemos caracterizá-la por falta de medicamentos. (...) se nos encontrarmos numa situação de epidemia, pontualmente, a situação pode alterar, mas nós não podemos traduzir como falta”, disse Monteiro, no encerramento do primeiro Conselho Nacional de Logística Farmacêutica e Artigos Médicos.
Mas Mathe questiona: “Se existem estes medicamentos, por que não estão disponíveis nas unidades sanitárias?”
Sem paracetamol
Nesta segunda-feira, 1, utentes de hospitais públicos de Chimoio, a capital da província moçambicana de Manica, disseram que a situação da falta de medicamentos prevalece.
Paula Xavier, uma paciente que encontramos à saída do Hospital Provincial de Chimoio (HPC), a maior unidade de referência na província, disse que não recebeu paracetamol e foi referida para uma farmácia privada.
“Quando fazemos a consulta dizem que não tem esta medicação, mandam à farmácia privada e quando lá chegarmos não tem, ou o valor é alto (...) é complicado, sobretudo, para os necessitados. A pessoa morre, porque não tem condições”,disse Xavier.
Outro paciente, Isaías Custódio, também teve que recorrer a uma farmácia privada para comprar fármacos para tratar a malária, diagnosticada no Hospital 1 de Maio, nos arredores da cidade de Chimoio.
“Se não vamos às clínicas privadas é porque não temos dinheiro”, lamentou.
Mathe lembra que muitos utentes estão a ser sujeitos a “despesas catastróficas e empobrecedoras”.
Roubo
A OCS recorda que a falta de medicamentos nos hospitais é um dos pontos principais apresentados no caderno reivindicativo da Associação dos Profissionais de Saúde Unidos e Solidários de Moçambique (APSUSM), que promoveu, nos últimos meses, uma greve nacional, agora suspensa por um mês.
Moçambique debate-se com um problema antigo de desvios de medicamentos do Sistema Nacional de Saúde (SNS), que geralmente são vendidos em mercados informais em condições inadequadas, o que leva a Polícia a acreditar que influencia a rotura nos hospitais públicos.
Uma operação recente da Polícia em Manica, apreendeu grandes quantidades de medicamentos do Sistema Nacional de Saúde, já apresentados à imprensa, e decorre a investigação dos envolvidos.
Mesmo assim, o comentarista Sande Carmona critica o que as autoridades fazem para conter o desvio de medicamentos, por considerar que é uma situação que não lhes atinge diretamente.
“Os governantes têm tudo”, quando ficam doentes deslocam-se “a outros países, onde vão ser tratados e nós que não temos capacidades de sair de um distrito para um hospital provincial, como vamos ficar?”, questiona Carmona.
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