Fazedores de opinião em Angola consideram “exagerada e intimidatória” a colocação do exército em estado de excepção em todo o país.
O chefe do Estado Maior General das Forças Armadas Angolanas (FAA), general Egídio de Sousa Santos, ordenou no domingo, 5, que até ao dia 20 de Setembro, o exército entre em “estado de prontidão combativa elevada”, supostamente “para evitar incidentes e proporcionar a manutenção da defesa e segurança” após as eleições, sobretudo na província de Luanda.
Para o investigador e jornalista Fernando Guelengue, a medida configura uma antecipada “acção psicológica” que visa evitar um eventual levantamento popular caso o Tribunal Constitucional (TC) decida por dar razão à Comissão Nacional Eleitoral (CNE), que confirmou o MPLA como o partido vencedor das eleições de 24 de Agosto.
“Está-se mesmo a ver que afinal os resultados eleitorais divulgados não reflectem a vontade do povo”, defende o investigador para quem o aumento em espiral de movimentos sociais contestatários das eleições “está a amedrontar o partido no poder”.
Ainda assim, Guelengue diz que “elevar a prontidão combativa das FAA amedronta-nos a todos porque as Forças Armadas têm um agir diferente ao da polícia”.
“Se o propósito é intimidar, então estamos a projectar uma fotografia muito negativa para o país”, defende, por seu turno, o jurista Vicente Pongola, quem entende que a medida coloca o país “diante de uma medida excepcional que revela um divórcio entre a população e o poder instituído, cria um desconforto entre as pessoas e uma instabilidade emocional para quem quer investir em Angola”.
Aquele analista também entende que colocar nas ruas as FAA é revelador de que “há um medo excessivo por parte de quem governa”.
O despacho
O despacho do general Egídio de Sousa Santos ordena a todas as unidades, estabelecimentos e órgãos das FAA a reforçarem “as medidas de segurança dos principais objetivos económicos e estratégicos e das instituições do Estado, controlo do movimento de colunas militares e restrições na saída de aeronaves militares, o serviço de guarda e guarnição e “elevado a rigor” a implementação das medidas de controlo do armamento e munições”.
O documento indica também que a Polícia Militar, em cooperação com a Polícia Nacional, deve intensificar o patrulhamento em carro e a pé nos centros urbanos e suburbanos, visando a recolha do pessoal e viaturas militares que contrariem as disposições contidas no despacho.
Lourenço promete festa pela "vitória do penta"
A medida foi anunciada numa altura em que o TC se prepara para decidir sobre o contencioso eleitoral face aos requerimentos apresentados pela UNITA e pela CASA-CE que não reconhecem os resultados eleitorais anunciados pela CNE, que deram uma vitória, com maioria absoluta, ao MPLA, com 51,17% dos votos, contra os 43,95% da UNITA.
Na sua conta na rede social Facebook, João Lourenço disse que o partido saiu à rua “para comemorar a vitória do penta”, mas que aguarda “serenamente pela decisão do Tribunal Constitucional”.
“Depois vamos organizar a segunda festa, a cerimónia de investidura e os actos que se seguem. Angolanos, estamos juntos”, afirmou.
O presidente da UNITA, por seu lado, continua a contestar a vitória do MPLA e começou, hoje, a divulgar na sua página no Facebook actas das assembleias de voto ganhas pelo seu partido.