Contam-se pelo menos oito meses de atraso no pagamento dos subsídios de bolsa aos estudantes angolanos, bolseiros do Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Angola, cuja sigla é INAGBE.
De várias partes do mundo chegam gritos de socorro, reforçados em Angola pelo choro dos seus pais.
Contactada por bolseiros angolanos na Rússia, Ucrânia, Índia, França, a Voz da América tem vindo a contar histórias de estudantes desesperados mas não desesperançados.
Jilsimar Oliveira, estudante de telecomunicações no 4º ano, na Ucrânia, raciona a comida que recebe de caridade, não sai do quarto da residência, por medo de ser impedido de entrar por falta de pagamento de renda e justifica que os estudantes angolanos na Ucrânia não conseguem emprego devido à cor da pele.
O reitor da Universidade de Jilsimar já não está disposto a negociar, conta o estudante, acrescentando que o ministro Adão do Nascimento tem total conhecimento do que se está a passar.
Do lado mais a ocidente da Europa, reclamam também os estudantes em França. Os relatos de Anjo Fudiela, estudante do 2º ano de Engenharia Física, são em nome de todos os estudantes. Eles criaram um site de recolha de donativos para poderem sobreviver.
Anjo é do Bairro do Cassequel, em Luanda e tem oito irmãos. Ele não perde a esperança, nem coloca a hipótese de voltar para Angola sem o diploma. Embora outros colegas noutros países já tenham considerado a ideia.
A VOA contactou Moisés Kafala Neto, director-geral do INAGBE, que não reconhece a veracidade destes relatos. Kafala Neto lamentou ainda que os estudantes tenham entrado em contacto com a VOA, dizendo que "os assuntos de Angola devem ser tratados pelos angolanos".
No contrato dos estudantes com o INAGBE as partes têm que cumprir com várias obrigações. O INAGBE tem que garantir o pagamento do subsídio de bolsa, o estudante tem que garantir bom rendimento académico. O INAGBE não paga, o estudante não consegue ir às aulas.
Ao que tudo indica, nenhuma das partes está a cumprir com o que ficou contratualizado.
*Por altura da entrevista com Jilsimar Oliveira, ele ainda vivia na residência da Universidade de Lviv na Ucrânia, mas por altura da publicação desta reportagem em vídeo, uma semana depois, Jilsimar informou-nos ter sido expulso por não ter conseguido pagar a renda.