O antigo director de Estudos e Projectos do Serviço de Investigação e Segurança do Estado (SISE), Cipriano Mutota, diz que o projecto da protecção marítima da Zona Económica Especial, que deu origem ao calote das chamadas dívidas ocultas, estava avaliado em 360 milhões de dólares, e não tem conhecimento sobre as razões que levaram o custo final a atingir os dois mil milhões de dólares.
De acordo com Mutota, que revelou terem sido o director do SISE, Gregório Leão, juntamente com o seu amigo Teófilo Nhangumele, os cérebros da criação da Proíndicus, o estudo de viabilidade apontava que o valor citado haveria de custear a aquisição de todos os meios necessários para garantir o funcionamento da empresa e garantia de todos os serviços a que se propunham disse na sua audição pelo Tribunal.
Vestido de roupa laranja, fardamento da reclusão, Mutota, primeiro dos 19 arguidos em tribunal, disse que a Proíndicus vinha responder a uma missão que tinha sido incumbida pela direcção do SISE, sobre as ameaças ao Estado, que apontava para a ocorrência de terrorismo, raptos, pesca ilegal, de entre outros crimes.
Segundo Mutota, o orçamento inicial já incluía uma “propina” de 50 milhões de dólares, que Jean Boustani, empresário libanês, em nome da Abudabi Mar, prometera pagar às figuras envolvidas na facilitação da aprovação do projecto.
De acordo com Mutota, o projecto financeiro foi submetido ao gabinete do então Ministro das Finanças, Manuel Chang, que indicou a então directora nacional do Tesouro, Isaltina Lucas, para dar assistência na organização e estruturação das contas.
Do valor do calote, Mutota admitiu ter recebido mais de 650 mil dólares e sete camiões.
Guebuza e Nyusi
Mutota disse que o projecto era do conhecimento do então Presidente da República, Armando Guebuza e do actual, Filipe Nyusi que, na qualidade de Ministro da Defesa Nacional, chefiava o Comando Operativo Conjunto, órgão que envolvia, para além do sector da Defesa, o SISE e o Ministério do Interior, que faria a coordenação.
O arguido disse ter estado em duas reuniões com Guebuza, na Presidência da República, onde o projecto foi abordado.
Segundo contou, o projecto teve momentos de indefinição no processo da aprovação pelas autoridades moçambicanas e foi daí que entraram em cena os lobistas do esquema, nomeadamente, Teófilo Nhangumele e Bruno Tandane, que chegaram a Ndambi Guebuza, filho do então Chefe de Estado, para influenciar o pai, a agilizar as decisões.
Ainda nesta tarde (horário de Maputo), será ouvido Teófilo Nhangumele.