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Desmaios nas escolas por fome realça agravamento da segurança alimentar no centro de Moçambique


Crianças pescam em Nhamatanda, Sofala, Moçambique (Foto de Arquivo)
Crianças pescam em Nhamatanda, Sofala, Moçambique (Foto de Arquivo)

Professores e líderes comunitários alertam para a situação e pedem medidas

Vários casos de desmaios de alunos por fome nas escolas dos distritos das províncias moçambicanas de Manica e Sofala realçam o agravamento de bolsas de fome, quando projeções indicam que 9 milhões de cidadãos estarão a enfrentar situação de insegurança alimentar aguda.

Professores e líderes comunitários alertam para a esta situação e pedem medidas, enquanto investigadora aponta que a ausência de infraestruturas agrícolas adequadas tem empurrado a população a vender excedentes a preços baixos na época de abundância, deteriorando a sua segurança alimentar.

O Índice Global da Fome, de 2023, colocou Moçambique entre os 12 países com maior índice de fome no mundo, mas as projeções para 2024 do Índice de Preço ao Consumidor (IPC), do Instituto Nacional de Estatísticas (INE) de Moçambique, indicam que nove milhões de pessoas estarão a enfrentar insegurança alimentar aguda, das quais seis milhões em situação aguda de stress e três milhões em crise alimentar e emergência.

Relatos de vários moradores à VOA mostram que dezenas de crianças tem desmaiado em salas de aulas devido à fome em escolas de Tambara e Guro (Manica) e Chemba e Caia (Sofala) após passarem dias a fio sem se alimentar, por falta de comida.

O caso mais recente foi registado na sexta-feira, 12, quando uma criança desmaiou na sala de aulas no distrito de Tambara.

“Nós como professores socorremos, fizemos uma papinha e demos à criança (até recuperar os sentidos), e as outras crianças sobem nessa árvore à procura de fruta silvestre e comem”, explicou Natacha da Paz, professora primária na escola de Chiuta.

Enviar ou não crianças à escola

A docente observa que a carga horária de cinco horas está a ser demasiado pesada para crianças das classes iniciais e sugeriu uma redução da carga horária ou uma introdução urgente de lanche escolar, para a retenção de alunos nas escolas.

“A criança chega aqui às 7 horas da manhã até 12:05 horas não é fácil para uma criança de seis ou sete anos, não é fácil, se houvesse possibilidade de introduzir um lanche escolar, seria muito bem-vindo, não só para esta escola, mas para muitas escolas deste distrito que estão a passar por mesma situação”, defende Natacha da Paz, secundada por vários professores.

Um líder comunitário de Chemba, que se identificou por António, disse que os encarregados de educação estão a enfrentar um dilema, entre enviar as crianças à fome nas escolas ou cortar-lhes o acesso à educação para que estas não se esforcem e não venham a desmaiar nas escolas.

“Fome, tudo isso é por causa da fome. As crianças dormem sem comer, e no dia seguinte mandamos para a escola, ela não aguenta e desmaia na escola”, precisou António.

Insegurança alimentar aguda

As autoridades moçambicanas estimam que 400 mil pessoas estejam em situação extrema de carência alimentar, mas organizações da sociedade civil continuam a advertir para uma realidade muito mais preocupante, visto existirem bolsas de fome um pouco por todo o país.

O Índice Global da Fome, de 2023, caraterizou o nível de fome em Moçambique de “severo”, e uma projeção do Índice de Preço ao Consumidor (IPC), do Instituto Nacional de Estatísticas (INE), que inclui os meses de Março e Abril de 2024, aponta para o aumento da fome no país.

Mariam Abbas, investigadora do Observatório do Meio Rural (OMR), anotou que o aumento da fome resulta, por um lado, da agressão de eventos climáticos extremos, mas, por outro, da ausência de políticas públicas para criar infraestruturas de apoio a produção agrícola, armazenamento e escoamento.

“Este valor elevado ou este aumento considerável de número de pessoas em situação de insegurança alimentar aguda é justificado como consequência, do esgotamento das reservas alimentares e da questão do impacto do El-Niño, em particular na zona sul e centro do país”, frisou Mariam Abbas.

Aquela investigadora acrescentou que a ausência de infraestruturas agrícolas adequadas tem empurrado a população a vender excedentes a preços baixos na época de abundância, deteriorando a sua segurança alimentar e tornando-os dependentes de ajuda humanitária.

Apoio governamental

“Se focarmos nestas infraestruturas de armazenamento, vai permitir garantir reservas alimentares por períodos mais longos, mas também o armazenamento de produtos para venda em período de melhores preços, ou seja, os agregados familiares não vão se ver obrigados a vender a sua produção pós colheita por dificuldades ou por não existir infraestruturas que permitam o armazenamento desta produção”, concluiu Mariam Abbas.

Entretanto, o Presidente Filipe Nyusi disse na sexta-feira, 12, durante o lançamento da campanha de comercialização agrícola-2024, em Niassa, que a fome e pobreza só se combatem com a produção, encorajando por isso a produção agrícola, ao mesmo tempo que prometeu melhores infraestruturas.

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