O chefe das Nações Unidas (ONU) para os direitos humanos, Volker Turk, afirmou na sexta-feira, 7, estar profundamente perturbado com a escalada da crise no leste da República Democrática do Congo (RDC), apelando a todos os que têm influência para ajudarem a travar a violência e alertando para o risco de esta se propagar para além das fronteiras do país.
“Se nada for feito, é possível que o pior ainda esteja para vir para a população do leste da RDC, mas também para além das fronteiras da RDC”, disse Turk numa reunião de emergência do Conselho dos Direitos Humanos, com sede em Genebra.
O Conselho dos Direitos do Homem da ONU, que engloba os 47 Estados membros, decidiu lançar uma investigação sobre as alegadas violações e abusos cometidos durante os confrontos mortais que assolam o leste da RDC. Segundo Turk, "desde 26 de janeiro, cerca de 3.000 pessoas foram mortas e 2.880 ficaram feridas". O membro da ONU frisou que os números reais serão "muito mais elevados".
"Estou horrorizado com o alastramento da violência sexual, que tem sido uma caraterística terrível deste conflito desde há muito tempo. É provável que esta situação se agrave nas actuais circunstâncias”.
O órgão máximo das Nações Unidas para os direitos humanos adoptou uma resolução que insta os combatentes do M23 a retirarem imediatamente das áreas ocupadas e que dá início a uma investigação. Mais de 77 organizações de defesa dos direitos humanos, entre as quais a Human Rights Watch, publicaram uma carta conjunta apelando igualmente à realização de um inquérito internacional.
“É urgente exercer pressão internacional para que o Ruanda cesse o seu apoio aos grupos armados e se retire do território congolês o mais rapidamente possível”, afirmou o Ministro da Comunicação do Congo, Patrick Muyaya, perante a sala de reuniões lotada.
O embaixador francês Jérôme Bonnafont declarou que "a violação em grupo de [mais de 200] mulheres na prisão de Goma, a 27 de janeiro, se confirmada, é suscetível de constituir um crime de guerra, tal como a morte de três soldados da paz da Monusco, que devem poder cumprir a sua missão de proteção dos civis". "Estes crimes não podem ficar impunes”, sublinhou.
O Ruanda rejeitou a responsabilidade e avisou que ele próprio estava em risco de ser atacado pelo seu vizinho.
“Opomo-nos categoricamente às tentativas da RDC de apresentar o Ruanda como responsável pela sua instabilidade no leste da RDC. Trata-se de uma tática de desvio bem conhecida, utilizada para escapar à responsabilização pelas atrocidades que Kinshasa e o grupo armado seu aliado estão a infligir aos seus próprios cidadãos.”, afirmou James Ngango, embaixador do Ruanda nas Nações Unidas em Genebra.
A comunidade internacional e os países mediadores, como Angola e o Quénia, estão a tentar encontrar uma solução diplomática para a crise, temendo uma conflagração regional. Kinshasa está a pedir sanções contra Kigali.
A sessão de urgência foi solicitada pela própria República Democrática do Congo, com o apoio de cerca de 30 dos 47 países membros do Conselho, incluindo a Bélgica e a França.
c/ Reuters e AFP
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