Cinco membros das Forças de Defesa e Segurança (FDS) perderam a vida em confronto com a população, na vila de Macomia, na província moçambicana de Cabo Delgado, disseram à VOA nesta quinta-feira, 11, várias fontes locais.
A população, disseram as fontes, rebelou-se contra os militares por supostamente terem morto um comerciante considerado inocente.
As vítimas são três militares e dois agentes da Unidade de Intervenção Rápida (UIR), ligado à Polícia, além do comerciante.
A rebelião
Os moradores disseram que o comerciante foi surpreendido por uma patrulha militar na sua barraca, depois das 20:30 horas locais na segunda-feira, 8, o que alegadamente violava a medida de recolha obrigatória imposta devido ao alto nível de ameaça terrorista.
“Quando os soldados avistaram o comerciante, não perguntaram sobre a proveniência, balearam o jovem, depois levaram cartuchos de balas e deixaram na barraca do comerciante”, supostamente para o incriminar, contou Vicente Abibo, um morador.
Furiosa, a população revoltou-se contra as forças de defesa e segurança quando se apercebeu do incidente na manhã seguinte, e na tentativa de travar os ânimos a Polícia disparou balas reais contra civis, iniciando assim o confronto com a população munida de pedras e paus.
“Primeiro pegaram três soldados e foram batidos até a morte. Um quarto elemento da força foi queimado (linchado). A população não vergava, e pedia a presença do comandante para explicar se a recolha obrigatória veio para matar ou disciplinar os moradores”, explicou a mesma fonte.
Investigação
A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Pemba, que confirmou a rebelião, não deu detalhes sobre o número de mortos.
Entretanto, um comunicado do Estado-Maior General das Forças Armadas de Defesa de Moçambique (FADM), sem fazer menção à rebelião, afirma que o incidente será rigorosamente investigado.
A nota refere que o comerciante, que circulava fora do limite da recolha obrigatória, “carregava consigo um recipiente vazio de munições de uma metralhadora denominada ‘PK’, o que levantou grandes suspeitas sobre as suas verdadeiras intenções”.
“Questionado pelos elementos da patrulha conjunta sobre a origem da caixa, o indivíduo pôs-se, imediatamente, em fuga, tendo os elementos da patrulha efetuado, sem sucesso, vários disparos de aviso e que na tentativa de neutralizá-lo, o individuo foi atingido mortalmente” detalham as FADM, que lamentam o incidente.
O porta-voz do governo, Filimão Suaze, afirmou na quarta-feira, 10, que era cedo para o governo se posicionar sobre o incidente.
Influência
Para o sociólogo e investigador moçambicano, João Feijó, a ausência do Estado e seus serviços nas zonas de conflito pode dar protagonismo aos insurgentes.
Ele diz que “ isso traduz uma nova fase do conflito, em que esta população convive mais harmoniosamente com a insurgência, e isso levanta um desafio acrescido às forças de defesa e segurança, que depois aplicam um excesso de zelo junto da população civil”.
“Vamos ver o que vai acontecer no futuro em Macomia - se são os Ruandeses que irão compensar depois as tropas do SAMIM e se isso terá algum efeito positivo, porque as forças armadas de Moçambique estão a ter dificuldade de enfrentar este cenário adverso”, afirma Feijó, que defende estratégias mais amigas com a população.
Por sua vez, o analista de segurança, Tobias Zacarias, baseado em Nampula, diz que há muitos casos de baleamento de civis que não chegam ao público em Cabo Delgado, como resultado da falha de disciplina por parte das Forças de Defesa e Segurança e de campanha antagónica de forças estrangeiras.
Zacarias suspeita uma espécie de “instrumentalização das populações locais”, sendo por isso, “necessário que haja uma campanha de apaziguamento dos ânimos”.
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