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Chissano desencoraja golpes mas analistas políticos dizem que derrubam ditaduras camufladas de democracias


Joaquim Chissano (centro), antigo Presidente moçambicano e chefe da Missão e Observadores da União Africa, Bissau, Guiné-Bissau
Joaquim Chissano (centro), antigo Presidente moçambicano e chefe da Missão e Observadores da União Africa, Bissau, Guiné-Bissau

O antigo estadista moçambicano Joaquim Chissano desencorajou na terça-feira, 5, os recentes golpes militares no Gabão e Níger, afirmando que o fenómeno contraria a decisão da União Africana (UA) e está a retroceder a paz e a democracia no continente.

Analistas políticos ouvidos pela Voz da América entendem, por seu lado, que os golpes estão a derrubar ditaduras camufladas em democracias.

Joaquim Chissano, preocupado com os nove golpes militares na África central e ocidental nos últimos três anos, afirmou que o bloco continental precisa “desencorajar a solução através de golpe de Estado”, para forçar as “mudanças anticonstitucionais” dos governos.

Chissano disse que “a União Africana tem que estudar [o fenómeno] para desencorajar a solução através de golpes”, vincando que as soluções dos golpes recentes no Gabão e Níger dependem das habilidades dos blocos regionais da África central e ocidental, respetivamente.

“Penso que há de haver sabedoria suficiente para voltarmos à paz”, precisou Joaquim Chissano, também enviado das Nações Unidas para mediar vários conflitos, sobretudo, pós-eleitorais, insistindo que “os golpes são um retrocesso da tendência de paz e da democratização do continente”.

Entretanto, vários analistas moçambicanos ouvidos pela Voz da América consideram que os golpes em África estão a tornar-se frequentes para derrubar ditaduras camufladas em democracias e tentam agora impor uma ordem como as democracias convencionais.

O antigo deputado pelo Movimento Democrático de Moçambique (MDM) Sande Carmona entende que se os militares chegam a golpes de Estado para a normalização da vida política, económica e social “porque lhes esgotam soluções, porque não há eleições genuínas, que terminam em resultados credíveis da escolha do povo”.

“O Presidente Chissano pode estar a fazer a definição da democracia à maneira da Frelimo, porque a democracia não flui nestes países. Há sim ditadores que quando chegam na presidência criam um quarto para guardar dinheiro, tem mais dinheiro que o próprio estado guardado em casa, isso não é democracia”, reforçou aquele analista político.

Por sua vez, o politólogo Martinho Marcos observa que os golpes militares refletem uma fadiga da população pela governação de ditaduras que se fazem passar por democracias há mais de 40 anos no poder.

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“As eleições são um fiasco e geralmente são realizadas em situações lamentáveis: as eleições em Angola foram uma vergonha, aseleições no Zimbabwe foram uma vergonha, aqui em Moçambique idem, então não há democracia, além da rara exceção de Cabo Verde”, aponta Martinho Marcos.

Na segunda-feira, 4, o líder dos militares no Gabão tomou posse como Presidente interino e formou um novo Governo.

O golpe militar no Gabão foi anunciado pouco depois de a comissão eleitoral ter declarado a vitória de Ali Bongo nas eleições presidenciais e legislativas do dia 26 de Agosto, que a oposição considerou fraudulentas.

A família de Ali Bongo estava no poder há 50 anos no Gabão.

Os golpistas afirmaram que o escrutínio não foi transparente, credível ou inclusivo e acusaram o Governo de governar de forma "irresponsável e imprevisível", prejudicando assim a "coesão social".

Na quarta-feira, 30, os líderes do golpe de Estado anunciaram a nomeação do general Brice Oligui Nguema, comandante da Guarda Republicana do país, responsável pela segurança do próprio chefe de Estado, como novo "presidente de transição".

O Gabão junta-se, para já, à lista de países que tiveram golpes de Estado bem-sucedidos nos últimos três anos: Mali (agosto de 2020 e maio de 2021), Guiné-Conacri (setembro de 2021), Sudão (outubro de 2021) e Burkina Faso (janeiro e setembro de 2022).

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