O consumo excessivo de bebidas alcoólicas e o uso de outras drogas estão na origem, em grande parte, do abandono dos pais dos filhos e esposas, um problema que levou o próprio Governo a admitir que é necesário enfrentá-lo, dando assim razão a responsáveis de organizações da sociedade civil que trabalham com crianças.
Num recente encontro, o ministro de Estado, da Família, Inclusão e Desenvolvimento Social, Elisio Freire, revelou que 55 por cento das crianças registadas vivem sem a presença do pai, enquanto 13,5% não têm registo do progenitor.
O director das Aldeias SOS, que se dedica a acolher e ajudar crianças, Dionísio Pereira, diz que se tem centrado atenção mais no aspecto da criação de condições para o empoderamento económico das famílias com incidência para mulheres, mas é necessário dar-se mais atenção a outros factores que possam contribuir para se melhorar a "parentalidade" no arquipélago.
Para isso, entre várias medidas, Pereira defende que deve-se atacar a questão do consumo abusivo do álcool no seio das famílias.
"Pode parecer muito estranho, mas é um elemento bastante forte no processo porque a maioria dos meninos que nós temos, os seus familiares apresentam histórico grave de álcool, um segundo aspecto prende-se com a disfuncionalidade das famílias, portanto pessoas que não foram cuidadas não sabem como cuidar", conta aquele responsável.
A VOA conversou com a interna na SOS de Assomada, Katiana Sofia Lopes, quem conta as dificuldades vividas no bairro onde residia e no seio familiar.
"A minha mãe não tinha muitas condições para cuidar de mim e dos meus irmãos, havia muitos problemas na minha comunidade como brigas e demasiado uso de álcool, situação que reflectia na nossa educação e acabei por ser colocada na Aldeia onde me sinto muito bem", afirma.
Noutra instalação da mesma organização, em São Domingos, a adolescente Juceila Gomes Barros aponta a “falta de condições da família e alguns problemas dos pais com o consumo abusivo do álcool”.
Por seu lado lado, a presidente do Instituto Cabo-verdiana da Criança edo Adolescente (ICCA) entende que se deve trabalhar mais a vertente afectiva porque “muitas crianças e adolescentes abandonados e acolhidos pelas Instituições de cariz social não recebem visitas dos pais”.
"Nós todos devemos trabalhar em conjunto para proporcionar as melhores condições de vida às crianças, mas a responsabilidade primeira é dos pais, devem compreender que quem coloca um filho no mundo precisa cuidar e dar carinho, daí precisarmos trabalhar este aspecto", concluiu Maria Silva.
Neste particular, Katiana Sofia Lopes considera fundamental o carinho da família biológic, e deixa uma mensagem de incentivo aos pais e demais membros familiares “a visitarem os centros de acolhimento, no sentido das crianças continuarem a ter ligação com as mesmas”.