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Cabo Delgado prepara-se para enfrentar crise humanitária após cortes da ajuda externa


Pessoas deslocadas da província de Cabo Delgado reúnem-se para receber ajuda humanitária do Programa Alimentar Mundial (PMA) na Escola da Tribuna 21 de abril, na vila de Namapa, distrito de Erati, em Nampula, Moçambique, a 27 de fevereiro de 2024.
Pessoas deslocadas da província de Cabo Delgado reúnem-se para receber ajuda humanitária do Programa Alimentar Mundial (PMA) na Escola da Tribuna 21 de abril, na vila de Namapa, distrito de Erati, em Nampula, Moçambique, a 27 de fevereiro de 2024.

Ativista social diz que corte na ajuda externa pode provocar caos nas famílias deslocadas, mas é um mal necessário para o país “aprender a caminhar com os próprios pés”

O Governo moçambicano e agências humanitárias que atuam em Cabo Delgado continuam empenhados na busca de alternativas para enfrentar a crise humanitária, provocada por um prolongado conflito armado e agravada por eventos climáticos severos, após o anúncio de Donald Trump de cortes de recursos na ONU, que assegurava a maior assistência àquela província.

Mais de 670 mil pessoas continuam deslocadas pelo conflito armado no norte de Moçambique e a depender de assistência humanitária para sobreviver, numa altura em que a ajuda humanitária externa reduziu em Cabo Delgado, com várias organizações a fecharem as portas e a suspender projetos de desenvolvimento na província.

A limitação de recursos externos para ajuda humanitária levou o Instituto Nacional de Gestão de Desastres (INGD) e seus parceiros a criarem um grupo de soluções duradouras, que deve buscar fundos internos para dar resposta ao drama humanitário em Cabo Delgado.

“Temos que começar a encontrar caminhos locais para resolver os nossos problemas” precisou Marques Naba, delegado do INGD em Cabo Delgado, ao reagir aos decretos presidenciais do Chefe de Estado americano, Donald Trump, que suspenderam centenas de milhões de dólares em doações de ajuda externa, por 90 dias, ao assumir o cargo a 20 de janeiro.

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Naba acrescentou que “se os apoios externos chegarem às nossas mãos, nós vamos agradecer, mas enquanto estamos à espera, enquanto pensamos que alguma coisa virá dos outros, nós localmente temos que encontrar saída, esta é a visão deste grupo de soluções locais, encontrar saída dos problemas locais”.

Várias agências das Nações Unidas alertaram sobre o impacto global de cortes de fundos para ajuda externa anunciados pelo Governo dos Estados Unidos, que liderava o setor de auxílio humanitário no mundo, incluindo em Moçambique.

Bony Mpaka, chefe adjunto do escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários (OCHA) em Moçambique, observa que a fragilidade provocada por anos de conflito colocou muitas famílias da região em vulnerabilidade socio-económica.

“Estamos a reconsiderar acerca dos fundos, mas posso garantir que OCHA e os parceiros humanitários, com os limitados recursos disponíveis, vamos continuar a dar suporte o povo moçambicano, o Governo e os dirigentes locais, para assegurar que os mais vulneráveis sejam assistidos. Mesmo com a limitação dos fundos, possamos continuar a salvar a vida dos mais vulneráveis”, afirmou Bony Mpaka.

Os Estados Unidos financiaram o apelo humanitário global em cerca de 47% no ano passado.

Mal necessário

Entretanto, o activista social, Manuel Nota anota que o corte na ajuda externa poderá provocar caos nas famílias deslocadas que dependem de doações para sobreviver, mas considera a medida como um mal necessário para o país “aprender a caminhar com os próprios pés”.

“Antes já estávamos a passar mal, imagine agora com esse corte, a população ou o beneficiário direto que depende de assistência vai sofrer que tanto”, enfatiza Manuel Nota.

O também coordenador da Caritas em Cabo Delgado insiste, no entanto, que a suspensão da ajuda deve servir de lição para o país buscar recursos próprios para cobrir a assistência humanitária.

“Nós aqui em Moçambique somos muito dependentes, essa dependência tem criado preguiça mental por parte dos nossos dirigentes, não se preocupam em criar condições para que possamos viver com o que temos, esperando sempre da ajuda externa”, conclui.

Terrorismo e mudanças climáticas

A região de Cabo Delgado vive há cerca de sete anos um severo conflito - com ataques reivindicados pelo grupo extremista Estado Islâmico-, que conduziu a mais de 1.3 milhões de deslocados internamente, a maioria deles mulheres e crianças.

Além do conflito no Norte, Moçambique é considerado um dos países mais afetados no mundo pelas mudanças climáticas.

As secas, que se tornaram mais frequentes, são uma preocupação agravada para o pais, já que 80% da população de mais de 33 milhões de pessoas dependem da agricultura de sequeiro.

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