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Cabo Delgado: Insurgentes intensificam atividades para "ganhar mentes e corações da população"


Mocímboa da Praia, Cabo Delgado, Mozambique
Mocímboa da Praia, Cabo Delgado, Mozambique

Um confronto entre insurgentes e forças governamentais, seguido de um saque, não confirmado, na aldeia Lamala a 6 de Julho, pode ter dado início a movimentos insurgentes significativos na aldeia.

Grupos armados intensificaram a atividade de “conquista de mente e corações”, na versão do analista político Tobias Zacarias, à população deslocada que regressou ao longo do rio Messalo, no distrito de Mocímboa da Praia, na província moçambicana de Cabo Delegado, após semanas de um novo surto de violência que deixou pelo menos 22 mortos.

As informações foram avançadas à Voz da América nesta semana por várias fontes locais.

Dados do projeto de registo de conflitos (ACLED, na sigla inglesa) consultados pela Voz da América indicam que 20 pessoas morreram, entre civis e militares, em Junho e Julho na sequência do surto de violência, supostamente durante as movimentações de reagrupamento dos insurgentes.

Outras duas vítimas foram encontradas decapitadas em Chai, na segunda-feira 17.


Um confronto entre os insurgentes e as forças governamentais, seguido de um saque, não confirmado, na aldeia Lamala a 6 de julho, pode ter dado início a movimentos insurgentes significativos na aldeia, segundo o ACLED, que relata migrações de grupos combatentes dos distritos de Macomia e Muidumbe para Mocímboa da Praia.

“É possível que os insurgentes pretendam tomar o controlo de uma antiga estrada costeira, conhecida localmente como Estrada Velha, ou 'Antígua', que liga Quiterajo, no distrito de Macomia, à vila sede de Mocímboa da Praia, e que lhes daria liberdade de movimento ao longo da faixa da costa”, resume o "Cabo Ligado de 3-9 de julho", uma publicação semanal do ACLED.

A publicação adianta que os insurgentes também continuam a ter alguma presença mais a sul, em Macomia, tendo os combatentes entrado em Pangane a 3 de julho para comprar mercadorias. Isso sucedeu após os insurgentes terem sido vistos nas imediações das aldeias de Mandava e Mandela desde 30 de Junho.

O contingente do Botswana, baseado em Mueda e que cobre o distrito de Muidumbe, foi atingido duas vezes por dispositivos explosivos improvisados quando tentava restringir os insurgentes as baixas a sul de Muidumbe.

Cabo Delgado: Deslocados e retornados ressentem-se do mesmo problema
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Os explosivos podem ter sido implantados para impedir o acesso a uma provável base dos insurgentes perto do rio Messalo.

Não foi possível verificar de forma independente as informações.

A cobertura jornalística na área é difícil e só é possível mediante visitas organizadas pelo Governo ou pelas forças estrangeiras.

O Ministério moçambicano da Defesa Nacional não respondeu de imediato o nosso pedido de comentário enviado por e-mail.

Campanha para “ganhar mentes e corações”

Entretanto, o analista político moçambicano Tobias Zacarias, que estuda a insurgência em Cabo Delgado, em conversa com a Voz da América, diz que os insurgentes estão a expandir a sua campanha de “ganhar mentes e corações” das comunidades locais para o distrito de Muidumbe, após terem inicialmente concentrado a estratégia no litoral de Macomia e Mocímboa da Praia.

O também docente de Ciências Políticas observa que os insurgentes adotaram uma nova tática, dividindo-se em pequenos grupos, que se misturam com as populações e compram produtos a preços inflacionados, num esforço de "ganhar corações e mentes".

“Eles estão a entrar nas aldeias e a explicar que não estão lá para fazer mal à população local, mas sim, querem o Governo, não querem as forças estatais, não querem as forças estrangeiras”, acrescenta Tobias Zacarias, realçando que a violência continua iminente.

“A possibilidade de queimarem mais igrejas e mais mesquitas, não deve ser descartada neste momento”, anota Zacarias, para quem a continuar a estratégia poucas mortes serão causadas pelo conflito.

A última avaliação de deslocamento e regresso da população da Organização Internacional para Migração (OIM), realizada em Março de 2023, avança que 420.200 deslocados regressaram aos distritos libertados das mãos dos grupos rebeldes.

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