O diplomata moçambicano João Bernardo Honwana disse, esta semana, que Moçambique pode, eventualmente, criar condições para uma negociação entre o Estado e os cidadãos moçambicanos que apoiam a ofensiva jihadista em Cabo Delgado.
Esta posição foi assumida numa altura em que as autoridades governamentais moçambicanas dizem ser difícil negociar com o grupo que aterroriza a província nortenha de Cabo Delgado, "porque não tem rosto".
Para alguns analistas, a afirmação de Honwana, ex-comandante da Força Aérea de Moçambique e ex-director do Departamento de Assuntos Políticos das Nações Unidas, é uma forma diplomática de dizer que a solução para o conflito naquela província passa pela negociação.
Para o director do Centro de Integridade Pública-CIP, Edson Cortêz, ao fazer a afirmação, João Bernardo Honwana percebe que para o conflito em Cabo Delgado, a solução não é simplesmente militar, passa, acima de tudo, pelo diálogo.
"Ele encontrou uma maneira diplomática de dizer que é preciso dialogar com os insurgentes", realçou o director do CIP.
Por seu turno, o director do Centro para a Democracia e Desenvolvimento (CDD), Adriano Nuvunga, considera que esta posição de Honwana "é muito responsável, séria e madura, de alguém que é experiente na gestão deste tipo de conflitos".
Mas para o arquitecto e analista político, Tomás Rondinho, "dizer que o Estado pode negociar com cidadãos moçambicanos que apoiam a insurgência, "é uma falácia".
"Como é que se pode negociar com elementos que para o Governo são desconhecidos?", interrogou-se.
Na sua opinião, em vez de se pretender negociar com desconhecidos, é preciso dotar as forças de defesa e segurança de meios adequados para enfrentar os atacantes.
Recentemente, o Presidente moçambicano, Filipe Nyusi, mostrou-se aberto ao diálogo com os insurgentes, mas exigiu que estes apresentassem o rosto, porque só assim será possível ouvir as suas preocupações.