Dezenas de milhares de apoiantes do Jair Bolsonaro reuniram-se este domingo, 25, na maior cidade do Brasil para defenderem o ex-Presidente de ações judiciais que o podem levar à prisão.
Frente aos apoiantes, o líder da extrema-direita disse que procura a "pacificação para apagar o passado", assumindo um tom mais conciliatório do que quando estava no cargo.
Bolsonaro tem tentado demostrar uma base resiliente, uma vez que é investigado pela Polícia Federal sobre o seu alegado papel nos ataques de 8 de janeiro de 2023 a edifícios governamentais por parte dos seus apoiantes, devido à sua derrota eleitoral. Bolsonaro é ainda acusado de ter recebido ilegalmente jóias da Arábia Saudita durante a sua presidência.
O antigo presidente do Brasil pediu que as dezenas de pessoas ainda presas em resutado desses incidentes sejam perdoadas.
"O que busco é uma forma de nós vivermos em paz e deixarmos de ser tão nervosos. Amnistia para esses pobres coitados que estão presos em Brasília. Nós pedimos a todos os 513 deputados, 81 senadores um projeto de lei de amnistia para que a justiça seja feita no Brasil", afirmou.
Bolsonaro negou que ele e os seus apoiantes tenham tentado um golpe quando desordeiros atacaram edifícios governamentais há um ano.
"O que é um golpe? São tanques nas ruas, armas, conspiração. Nada disso aconteceu no Brasil", disse ele.
Seis quarteirões da Avenida Paulista encheram-se de apoiantes do antigo Presidente, muitos deles dizendo que ele está a ser perseguido pelo Supremo Tribunal do Brasil e que o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva ganhou, injustamente, a sua estreita vitória nas eleições de 2022.
Alguns dos apoiantes carregavam bandeiras de Israel em oposição ao atual Presidente, que tem sido amplamente criticado no país por comparar a ofensiva militar de Israel em Gaza ao Holocausto. Bolsonaro discursou com uma bandeira de Israel.
O antigo Presidente está impedido de se candidatar a cargos públicos até 2030 devido a duas condenações por abuso de poder, mas continua ativo na política brasileira como principal adversário de Lula, de centro-esquerda. À medida que se aproximam as eleições autárquicas deste ano, os candidatos dividem-se entre os dois líderes.
Alguns dos aliados de Bolsonaro, que pretendem destituir Lula nas eleições de 2026, também estiveram presentes, incluindo os influentes governadores Tarcísio de Freitas, do estado de São Paulo, e Romeu Zema, do estado de Minas Gerais. Mas outros políticos e empresários importantes que se alinharam com ele durante a sua presidência de 2019-2022 não compareceram.
Carlos Melo, professor de ciência política da Universidade Insper, em São Paulo, prevê que o evento pró-Bolsonaro não ajude a situação legal do ex-presidente.
"O facto de Bolsonaro não ter poder agora reduz o que ele pode fazer. Antes, temiamos que ele pudesse usar a força das Forças Armadas. Agora isso está descartado", disse Melo. "Essa nova realidade não o favorece com imprevisibilidade e drama."
O evento mostrou, no entanto, que a mensagem de Bolsonaro ainda ressoa em muitos brasileiros, sendo que alguns favorecem qualquer tentativa de golpe que o coloque no comando. Um homem desfilou usando um chapéu militar e gritou: "Brasil, nação, salve nossas forças. As forças armadas não dormiram!"
As investigações da polícia federal também incluem generais militares que alegadamente planeavam um golpe pró-Bolsonaro com os tumultos na capital, Brasília, no ano passado.
Outros apoiantes de Bolsonaro acreditam que o Brasil enfrenta o risco de radicalismo sob Lula, que também governou por dois mandatos em 2003-2010.
Presidente do PT diz que Bolsonaro procura sua imunidade
A presidente do Partido dos Trabalhadores, Gleisi Hoffmann, foi uma das poucas adversárias de alto nível do ex-Presidente a fazer comentários sobre o evento pró-Bolsonaro em São Paulo.
"Quando fala em amnistia para os condenados pelos motins de 8 de janeiro, Bolsonaro visa a sua própria impunidade. Ele não pode defender interesses que não são os seus", disse Hoffman nas suas redes sociais. "Não devemos ter nenhuma complacência com golpistas, a começar pelo seu chefe", disse a dirigente petista.
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