O Presidente dos Estados Unidos fez o seu discurso de despedida à nação nesta quarta-feira, 15, no qual apresentou os principais ganhos do seu mandato e alertou para uma "oligarquia" de ultra-ricos que está a enraizar-se no país, bem como um "complexo tecnológico-industrial" que está a infringir os direitos dos americanos e o futuro da democracia.
"Hoje, uma oligarquia de extrema riqueza, poder e influência está a tomar forma na América, o que ameaça literalmente toda a nossa democracia, os nossos direitos e liberdades básicos e a oportunidade justa de todos progredirem", afirmou Joe Biden a partir do Salão Oval, na Casa Branca.
Ele chamou a atenção para "uma perigosa concentração de poder nas mãos de algumas pessoas ultra-ricas, consequências perigosas se o abuso de poder não for controlado".
"Complexo militar-militar", um perigo para a democracia
Na sua mensagem, antes de passar a Presidência a Donald Trump, na segunda-.feira, 20 janeiro, Biden invocou os avisos do antigo Presidente Dwight Eisenhower sobre o complexo militar-industrial quando deixou o cargo.
"Estou igualmente preocupado com o potencial surgimento de um complexo tecnológico-industrial que também pode representar perigos reais para o nosso país", continuou Joe Biden que criticou as empresas de redes sociais, ao afirmar que "os americanos estão a ser soterrados por uma avalanche de desinformação e informações falsas, permitindo o abuso de poder".
Biden alertou também para os perigos da Inteligência Artificial, defendeu que os Estados Unidos devem assumir a "liderança" sobre a China na tecnologia transformadora, e disse que "forças poderosas" ameaçavam as suas conquistas climáticas.
“As redes sociais estão a desistir da verificação de factos. A verdade é sufocada por mentiras contadas em busca de poder e lucro. Devemos responsabilizar as plataformas sociais para proteger as nossas crianças, as nossas famílias e a nossa própria democracia do abuso de poder”, apelou o Presidente.
Fim da imunidade presidencial
Biden também pediu a aprovação de uma emenda constitucional para pôr fim à imunidade dos Presidentes em exercício, depois de o Supremo Tribunal ter concedido a Trump amplas proteções contra a responsabilidade criminal no ano passado pelo seu papel na tentativa de minar a sua derrota em 2020.
Durante grande parte do seu discurso, Biden elogiou o seu legado na economia, na saúde, no clima e no combate à violência armada que assola os Estados Unidos.
"Levará tempo para sentir o impacto de tudo o que fizemos juntos, mas as sementes foram plantadas, vão crescer e florescer nas próximas décadas", disse Joe Biden.
Na política externa, o Presidente americano sublinhou ter fortalecido a Organização do Tratado do Atlântico Norte (NATO), o que permitiu que a Ucrânia continuasse a ser um país livre mesmo em guerra com a Rússia.
Forças poderosas
Biden afirmou, por outro lado, que as mudanças climáticas nunca foram tão evidentes, dando como exemplo os incêndios dos últimos dias que deixaram mais de 20 mortos na Califórnia.
"Forças poderosas" estão a tentar desfazer ações de proteção ambiental por meio de uma "influência descontrolada", mas, enfatizou, "não devemos ser intimidados a sacrificar o nosso futuro, o futuro dos nossos filhos e netos".
O Presidente que deixa a Casa Branca aos 81 anos de idade afirmou que a nação esteve “constantemente a ser testada” e que “nos bons e maus momentos, resistimos a tudo”.
Ao usar a Estátua da Liberdade como metáfora, Biden disse que “estão sempre a chegar tempestades” que irão aumentar — mas não quebrar — os alicerces da nação.
Defesa da democracia
O presidente descreveu a construção da Estátua da Liberdade em Nova Iorque, uma oferta da França, dizendo que “como a própria ideia da América, foi construída não por uma pessoa, mas por muitas pessoas, de todas as origens e de todos os lugares .
“Tal como a América, a Estátua da Liberdade não está parada. O seu pé pisa literalmente à frente sobre uma corrente quebrada de escravidão humana. Ela está em marcha e move-se literalmente. Foi construída para balançar para a frente e para trás, para suportar a fúria das tempestades e para resistir ao teste do tempo. Porque as tempestades vêm sempre. Balança alguns centímetros, mas nunca cai na corrente abaixo. Uma maravilha da engenharia”, acrescentou o Presidente.
Em muitas ocasiões ele fez a defesa da democracia e incentivou todos a manterem-se envolvidos no processo democrático.
“Temos de nos manter engajados no processo. Eu sei que é frustrante. Um tiro justo é o que faz da América, América", disse Biden. “
Biden elogiou as instituições democráticas que sustentam os Estados Unidos da América e reconheceu que “o nosso sistema de separação de poderes, de freios e contrapesos pode não ser perfeito, mas manteve a nossa democracia durante quase 250 anos, mais do que qualquer outra nação na história que já tentou uma experiência tão ousada”.
Ideia da América
“Depois de 50 anos no centro de tudo isto, sei que acreditar na ideia da América significa respeitar as instituições que governam uma sociedade livre, a presidência, o Congresso, os tribunais, uma imprensa livre e independente”, disse.
O Presidente democraca terminou o seu discurso de despedida reiterando que acredita "na ideia que esta nação representa".
Após agradecer a vice-presidente Kamala Harris, todos os seus colaboradores, funcionários públicos no país e no exterior, a sua esposa Jill Biden e familia, e a todos os americanos, Biden concluiu que "agora é a vossa vez de ficarem de guarda, que todos vós sejais os guardiões da chama".
Durante a sua carreira, além de procurador, ele foi senador por 29 anos, vice-presidente durante oito anos e Presidente nos últimos quatro anos.
C/AP
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