A Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique continua por saber o paradeiro do compatriota exilado, Ntamuhanga Cassien, raptado por oito homens no domingo 23 na ilha de Inhaca.
Enquanto a Polícia da República de Moçambique (PRM) e o Serviço de Investigação Criminal (SERNIC) dizem desconhecer o caso, o porta-voz daquela associação garante que o jornalista Cassien foi levado a uma esquadra policial em Inhaca, tendo sido depois transferido para Maputo.
Em conversa com a VOA nesta segunda-feira, 31, Cleophas Habiyaremye confirma que Ntamuhanga Cassien foi levado da sua casa por oito homens, um deles falando o idioma local do Rwanda, para uma esquadra da polícia em Inhaca.
“Os oito indivíduos o detiveram e levaram-no à 20a. esquadra policial de Inhaca e o comandante da polícia disse que o caso do nosso colega era muito complicado e que não podia ficar em Inhaca e o levaram para Maputo”, afirma Habiyaremye, reiterando que esta informação foi avançada “pelo comandante ao nosso advogado na quarta-feira”, dia 26.
A partir daí, o porta-voz da Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique diz não ter ter recebido qualquer informação sobre o Cassien, nem da polícia nem do Governo moçambicano, a quem endereçou uma carta.
“A PRM e a Sernic dizem que não têm o nosso compatriota”, lamenta Habiyaremye, quem reconhece haver medo entre os ruandeses exilados.
Contactado pela VOA, o porta-voz do Sernic em Maputo, Hilário Lole, garante que “ninguém nos contactou, nem familiar nem a comunidade” e que soube do alegado rapto pelo comunicado posto a circular pela Associação dos Ruandeses Refugiados em Moçambique.
Posição semelhante tem o porta-voz da PRM, Leonel Muchina.
Perseguições aos exilados
Sem dados para confirmar se o rapto de Cassien é fruto do braço do regime do Rwanda, o porta-voz da associação, Cleophas Habiyaremye, lembra que o Presidente Paul Kagame tem estado atrás de todos os seus críticos.
Em Moçambique, ele aponta “três casos em 2016 em que os nossos compatriotas conseguiram fugir e escapar às tentativas de sequestro”.
Com cerca de quatro mil refugiados em Moçambique, Habiyaremye diz que até agora foram “sempre bem tratados pelo Governo, mas desde o dia 23 não temos qualquer notícia” do Executivo a quem a associação pediu “que localize” aquele antigo jornalista da rádio cristã Amazing Grace, em Kigali , capital do Ruanda.
Na altura, Ntamuhanga Cassien denunciou a perseguição por parte das autoridades do Rwanda, juntamente com vários críticos do Presidente Kagame.
Em 2015, ele foi condenado a 25 anos de prisão por conspiração contra o Estado, cumplicidade com terrorismo e homicídio, mas dois anos depois ele conseguiu fugir.
Desde que se refugiou em Moçambique, Cassien trabalhava como comerciante.
O Governo moçambicano não se pronunciou ainda.
Entrevista com Cleophas Habiyaremye: