Washington, 30 Dez - Na Costa do Marfim, o líder do movimento juvenil pro-Laurent Gbagbo apelou aos seus apoiantes para assumirem o controlo do hotel em Abidjan onde o presidente eleito Alassane Ouattara instalou provisoriamente o seu gabinete.
Charles Blé Goudé é ministro da juventude do proclamado governo de Laurent Gbagbo e é também líder dos Jovens Patriotas, um movimento juvenil que sempre apoiou o presidente cessante.
Blé Goudé disse a um jornal da Costa do Marfim que o presidente Alassane Ouattara tem que abandonar o mais tardar até Sábado o hotel Golf de Abidjan. Desde a sua eleição Ouattara continua ali hospedado tendo ali constituído o seu governo, que passou a contar com a protecção dos capacetes azuis das Nações Unidas.
Blé Goudé que em tempos apelou aos seus seguidores a lutarem e se possível até a morte, para protegerem o ainda presidente Gbagbo, pediu agora os seus apoiantes para atacarem o hotel Golf de mãos livres.
Falando durante um comício ontem em Abidjan, o líder dos Jovens Patriotas, disse que a intervenção militar estrangeira pode ser um acto de suicídio para África. Blé Goudé disse querer encontrar uma solução a crise, mas salientou que desde 2002 os seus partidários têm dito que ela não será por via militar.
Entretanto uma delegação da CEDEAO deu na Terça-feira um ultimato a Laurent Gbagbo para abandonar o poder sob pena de ter que ser removido à força. A mesma delegação deverá voltar a encontrar-se com Gbagbo na próxima Segunda-feira após uma concertação em Abuja.
Muitos duvidam no entanto se os países da região têm condições logísticas, militares e mesmo políticas para garantir a intervenção, e começa a haver receios de que o recurso a força venha a reacender outros conflitos na África Ocidental.
Blé Goudé organizou o seu comício no bairro de Abidjan onde um capacete azul da ONU foi ferido na Terça-feira durante um ataque de populares munidos de catanas contra um comboio das Nações Unidas.
O chefe do contingente militar das Nações Unidas, Alain Leroy disse estar preocupado com os apelos emitidos pela televisão estatal controlada por Laurent Gbagbo. A ONU diz que esses apelos destinam-se a incitar a violência contra a sua missão no país. O ataque da Terça-feira foi o resultado directo desses apelos baseados em mentiras e propagandas anti – Nações Unidas através da televisão, concluiu Alain LeRoy.
As Nações Unidas afirmam que os seus dez mil capacetes vão continuar na Costa do Marfim, apesar do pedido de Gbagbo para a sua retirada.
Mais de 170 pessoas já morreram vítimas da violência pós eleitoral, disse a ONU:
Organizações dos Direitos Humanos acusam os grupos armados leais a Gbagbo de assassinatos, raptos e torturas, desde as eleições, mas o campo de Gbagbo tem rejeitado as acusações.
O embaixador nas Nações Unidas e recentemente nomeado pelo presidente Alssane Ouattara, Youssoufou Bamba receia que a crise possa conduzir a um genocídio no país.
“A real preocupação do presidente Ouattara sobre a situação dos direitos humanos, onde tem havido uma massiva violação entre os dias 16 e 21. Cento e setenta e duas pessoas foram mortas apenas e por causa de se manifestarem. Pensamos ser inaceitável, e que tenho tentado dizer nas conversações que tenho vindo a ter, é que estamos a beira de um genocídio. Alguma coisa tem que ser feita.”
Existem receios que a crise possa conduzir a retoma da guerra civil de 2002-2003.
Os Estados Unidos deram o inicio ao plano de uma eventual retirada dos funcionários da sua embaixada em Abidjan no caso da erupção do conflito.