Washington, 28 Dez - A proposta para a instituição de uma comunidade islâmica nos arredores do centro dos ataques terroristas em Nova Iorque em 2001, pôs à prova a tolerância religiosa dos americanos naquele ano. Apesar da controvérsia ter abrandado, as feridas ainda não estão saradas.
À maneira de muitos outros cristãos, profundamente religiosos, através dos Estados Unidos, os paroquianos da igreja episcopal de Santo Albano, em Washington, tomam a sua fé muito a sério, mostrando-se ao mesmo tempo curiosos acerca doutras religiões.
O som da música depois do serviço religioso do Domingo, na sala paroquial, onde estão reunidos para ouvir Akbar Ahmed, professor de Estudos Islâmicos da Universidade Americana, aqui nos arredores de Washington. Ahmed é autor de um livro intitulado, Jornada Através da América: Os Desafios do Islão:
De pé, debaixo do estandarte dedicado a um mártir cristão, o patrono desta igreja, o Prof. Ahmed diz ao grupo de paroquianos ali reunidos acerca das diferenças entre os 7 milhões de muçulmanos nos Estados Unidos.
Existem entre eles diferenças étnicas, políticas e ideológicas. Disse ainda que muitos muçulmanos com quem se encontrou nas suas digressões através do país, dizem-lhe que os Estados Unidos são o melhor lugar do mundo para se ser muçulmano. Mas isso foi verdade antes da controvérsia acerca da proposta de um Imam para a construção de um centro comunitário islâmico a dois blocos do local onde estava o World Trade Center - o Centro Comercial Internacional em Nova Iorque. Isso mostra, disse o Prof. Ahmed, que as feridas do ataque de 11 de Setembro ainda não sararam.
Akbar Ahmed disse que aprendeu também que os líderes muçulmanos na América são capazes de assumir posturas sem ter ponderado antes, durante muito tempo, as suas consequências, criando, no processo, muita controvérsia que pode arrastar o resto da comunidade islâmica, e o resto do país…
Quanto a ele, afirmou o intelectual islâmico, o centro da comunidade islâmica deveria ser construído noutra zona, muito embora elogiando cristãos e judeus que levantaram a sua voz em defesa dos direitos dos muçulmanos. Desta forma, disse, pode-se depreender que a crise não indicou apenas tratar-se duma controvérsia religiosa, ou de uma questão islâmica, neste caso, mas ainda de uma questão de identidade própria dos americanos, e do que significa ser americano. Adiantou que os acontecimentos do 11 de Setembro não mudaram o carácter pacifista do povo islâmico, mas demonstraram ao mesmo tempo a identidade dos americanos, um povo tolerante das diversidades religiosas ou outras.