As quedas de quatro ministros em menos de um ano de mandato da presidente Dilma Rousseff, em sucessivos escândalos de corrupção, levantam algumas dúvidas em torno da gestão da petista no Brasil.
Os brasileiros e analistas debatem se as demissões de dirigentes e servidores do alto escalão das pastas dos Transportes, Agricultura, Turismo e Casa Civil seriam uma “limpeza” no governo, reacomodação de forças políticas ou uma demonstração fragilidade na administração Rousseff.
Para o cientista político da Universidade de Brasília (UNB), Paulo Kramer, os eventos recentes no Brasil são um pouco de tudo isso. Analisando primeiro as demissões de envolvidos em corrupção no governo, o cientista avalia que, no mínimo, a postura da presidenta demonstra disposição de enfrentar a corrupção endêmica no Brasil.
“A faxina é uma aspiração de todos os brasileiros de bem, mas nós precisamos lembrar que o sistema político brasileiro é estruturado de tal maneira que uma faxina muito profunda, nas condições atuais, pelo menos, é muito difícil, para não dizer impossível. A lógica do loteamento político dos cargos públicos do executivo é toda construída no sentido de permitir que essas forças desviem dinheiro público para seus fins políticos e pessoais. É por isso que a gente constata com tristeza que a corrupção no Brasil é endêmica, ela é própria do sistema,” afirma. “De qualquer forma, é saudável perceber que a presidente Dilma está, pelo menos, preocupada em testar os limites desse presidencialismo de coalização e se mostra mais preocupada que o seu mentor e antecessor Lula com essa corrupção endêmica,” completa.
O analista lembra, ainda, que as trocas de ministros foram comuns em outros governos recentes e em contextos bem piores do que o vivido pela presidente Dilma. Paulo Kramer destaca que as mudanças que têm ocorrido no governo são fundamentais para que Dilma se livre de uma herança negativa do presidente Lula. “É necessário que a presidente se desvencilhe da herança maldita deixada pelo presidente Lula, não só na área fiscal, bombas fiscais de efeito retardo que tornam mais difícil a administração das finanças públicas, mas também com ministros que são verdadeiras tranqueiras, são coisas que Lula, na base da amizade, pediu que Dilma mantivesse e está dando o que está dando.”
O cientista político analisa que o momento razoável da economia brasileira garante certo apoio para o governo Dilma enfrentar as turbulências. A economia não impede, no entanto, que outra grave fragilidade possa ameaçar a gestão da petista. “Nós sabemos que ela tem uma grave limitação que nessas horas aparece, que é o fato de antes ela nunca ter concorrido nem sequer para síndica de prédio, não foi vereadora, deputada estadual, federal, é mais uma gerente que cresceu na área técnica pública. De qualquer maneira, a “bata quente” está na mão dela, ela precisa descascar e acredito que, enquanto a economia estiver bem, a popularidade vai garantir uma boa margem de manobra com os políticos para mudar um pouco esse cenário.”
Paulo Kramer encerra alertando para mudanças de comportamento extremamente necessárias por parte da presidente brasileira. “Os dois presidentes anteriores, apresar da profunda diferença de estilo e conteúdo, FHC e Lula, tinham invejável experiência a política. Eles conheciam as regras do jogo e cada um jogou a seu modo. Mas ambos percebiam uma coisa fundamental: um presidente precisa jogar um setor da sua base de apoio parlamentar contra o outro para prevenir que todos os setores da sua base num determinado momento se volte contra ele,” explica. “A presidente precisa aprender isso. Isso vai muito da experiência, do tino politico, não só dela, mas de seus assessores e conselheiros,” encerra Paulo Kramer.