A Nigéria viveu nas últimas semanas um período de tumultos depois da decisão do governo de acabar com o subsídio dos combustíveis.
O governo voltou parcialmente atrás esta semana e a situação acalmou bastante. A crise fez contudo com que muitos nigerianos se interrogassem acerca do facto do principal produtor de petróleo em África ser obrigado a importar tantos combustíveis do estrangeiro.
Valentine Ngema espera nervosamente na longa fila ao volante do seu automóvel. Já passou mais de uma hora e ainda não conseguiu meter gasolina.
Como muitos outros concidadãos Ngema tem vivido os altos e baixos das últimas semanas depois do governo nigeriano ter decidido acabar com os subsídios da gasolina. Essa medida tomada no dia 1 de Janeiro traduziu-se pela duplicação dos preços dos combustíveis.
Agora o governo voltou parcialmente atrás depois de uma vaga de manifestações mas agora as reservas de gasolina estão praticamente esgotadas. Para Negma essas flutuações são indicadoras de corrupção: “ a indústria petrolífera está corrompida. Tomaram conta de tudo. É por isso que estamos a sofrer.”
Apesar da tensão ter diminuído depois do termo das manifestações os nigerianos apercebem-se agora que aquilo que era apresentado como um subsidio para ajuda-los a sobreviver poderá ter escondido roubos sistemáticos por parte de entidades oficiais.
Numa audiência esta semana no Congresso, o presidente da comissão dos subsídios dos combustíveis, Farouk Lawan, afirmou que no ano passado desapareceram 14 mil litros diários de combustíveis importados: “ tomando em consideração 2011, verificaram-se entradas de 59 milhões de litros por dia. 14 milhões de litros foram pagos com um subsidio do povo nigeriano mas não foram utilizados. Alguém está a ser enganado e esse alguém é o nigeriano comum.”
O governo justificou inicialmente a abolição dos subsídios dizendo que o objectivo era o de acabar com intermediários pouco escrupulosos. Contudo o activista anticorrupção Garba Kari afirma que as últimas revelações parecem implicar entidades oficiais: “trata-se de um esquema muito lucrativo. Tudo o que é preciso fazer para conseguir uma licença de importação de petróleo refinado é conhecer o ministro do petróleo ou altos funcionários do ministério.”
O governo do presidente Goodluck Jonathan encarregou a comissão nacional para os crimes económicos e fiscais de investigar as acusações. No entanto as promessas pouco fizeram para acalmar um público habituado à corrupção oficial.
Num país rico em petróleo, nigerianos interrogam-se acerca das importações de combustíveis.