A prioridade do Governo de João Lourenço deve ser o combate à corrupção, disse no programa “Angola Fala Só” Albino Pakisi, professor de Filosofia de Direito e comentador.
Num animado programa sobre a actual situação em Angola, Pakisi afirmou que só o fim da corrupção poderá permitir desbloquear o desenvolvimento do país.
“O combate à corrupção é o cerne das grandes questões”, justificou o professor, para quem "combater a corrupção abre muitas portas”.
“Existem pessoas não fazem nada neste país e vivem de comissões e isso tem que acabar porque tudo isso é corrupção”, denunciou aquele analista, reconhecendo, no entanto, que esse combate, prometido pelo novo Presidente, vai ser muito difícil porque “significa combater algumas pessoas dentro do partido”.
Os generais
João Lourenço “vai ter que se voltar contra gente do seu partido”, acrescentou Pakisi, afirmando ainda que “quem manda no nosso país são os generais”.
“João Lourenço, que também é general, vai ter que meter na linha os outros generais”, afirmou, recordando que “o labirinto da corrupção está feito por gente que governa”.
Albino Pakisi disse acreditar que o “MPLA tem vontade de fazer isso” porque mesmo dentro do partido, a corrupção e controlo de aspectos importantes da economia pelos filhos de José Eduardo dos Santos “irritaram muita gente”.
Contudo, acrescentou, “o partido vai ter de expurgar muita gente”.
Denúncias e justiça
Interrogado sobre o facto de acusações de corrupção contra dirigentes angolanos em diversos países estrangeiros, como Portugal, Espanha e França nunca serem investigados pelas autoridades judiciais angolanas, o professor de Filosofia de Direito disse que isso se deve ao facto de Angola ter “um partido-Estado em que o Estado é o MPLA”.
“Qualquer questão passa pelo MPLA e a Procuradoria tem que passar esse tipo de questão pelo MPLA”, explicou Pakisi, acrescentando que "temos que desligar o partido do Estado”.
Aquele analista adiantou que, embora muitos afirmem que o novo Governo “é mais do mesmo”, não se poderia esperar outra coisa já que é um Governo do MPLA que já estava no poder.
Contudo, fez notar que o Presidente é outra pessoa pelo que as suas opções e decisões poderão ser diferentes.
"João Lourenço vai fazer uma diferença muito grande”, acrescentou Albino Pakisi, lembrando que "mudou-se uma peça de grande importância naquilo que é o xadrez político com a saída do Presidente Eduardo dos Santos”.
O professor revelou que se fala na convocação de um congresso extraordinário do MPLA no início do próximo ano em que Santos poderá abandonar a chefia do partido, o que, para ele seria bom.
No que diz respeito às eleições, Albino Pakisi disse que a Comissão Nacional Eleitoral “não agiu de boa-fé”, o mesmo acontecendo com o Tribunal Constitucional.
Contudo, disse, “o importante é manter a paz” e fez notar o comportamento “exemplar” do povo angolano durante período eleitoral em que os dirigentes, por seu lado, mostraram não estar à altura do povo.
Albino Pakisi disse que o legado de José Eduardo dos Santos é misto.
O ex-Presidente tinha conseguido “manter a soberania” do país mas “depois de 2002 entrou numa fase de corrupção profunda”, concluiu Albino Pakisi.