A Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) em Angola “está a ser alvo de uma luta pelo poder consubstanciada na divisão do dinheiro”, disse Albino Pakisi, teólogo e professor universitário de Filosofia do Direito.
Ao participar no programa “Angola Fala Só”, Pakisi começou por notar que “a força da IURD em Angola é muito grande” e que tem feito grande trabalho junto das famílias angolanas e jovens.
“Tem uma grande presença e tem sido importante na união das famílias e entre jovens”, acrescentou o teólogo, quem fez notar também que políticos angolanos estão envolvidos na IURD, o que lhe dá maior peso mas que também levanta dúvidas.
No entanto, ele realça que a igreja de raíz brasileira não se imiscui em questões políticas, como fazem as igrejas Católica, Metodista ou Baptista, com declarações pontuais sobre certas questões como, por exemplo, o aborto.
Política à parte
“A influência direta na política por parte da IURD é difícil de adivinhar porque é uma igreja que está voltada à palavra de Deus, para a juventude e casais”, disse Pakisi.
“Em relação a questões políticas não dá opiniões, a IURD não se imiscui nessas questões,” acrescentou o teólogo.
Os pastores e bispos angolanos que se revoltaram dentro da IURD e ocuparam muitos dos templos da igreja emitiram um comunicado fazendo acusações graves contra a hierarquia da igreja, desde racismo, transferência ilegal de dinheiro e vasectomia forçada dos pastores angolanos para os impedir de ter filhos
Racismo e transferência de dinheiro
Albino Pakisi disse que as acusações são “gravíssimas e em parte têm fundamento”.
“É evidente que alguns pastores angolanos estavam a ser maltratados” em relação aos seus colegas brasileiros, como por exemplo na habitação e transportes.
“Há uma grande diferença e os pastores brasileiros têm melhores condições e é evidente que isso cria revolta”, disse Pakisi para quem no entanto, a acusação de racismo “não cola” porque a maioria dos pastores brasileiros da igreja são negros.
“Se fossem brancos a coisa colaria, mas assim não cola”, acrescentou.
O teólogo disse, no entanto, que as autoridades têm de investigar as acusações de transferências ilegais de dinheiro para o Brasil.
“Se há lavagem de dinheiro, há crime e se há crime as pessoas têm que ser responsabilizadas”, defendeu.
Pouco apoio
Pakisi observa que os revoltosos não têm grande apoio junto dos fiéis da IURD, embora isso seja de momento difícil de avaliar porque os templos estão encerrados devido à pandemia do coronavírus.
Contudo, avançou que, na sua opinião, “os pastores que se revoltaram não têm grande apoio”, afirmando esperar que a crise dentro da IURD se resolva até ao final deste mês com uma conciliação ou então haverá “rotura definitiva”.
Por outro lado, Albino Pakisi manifestou dúvidas de que os revoltosos possam ficar com os templos da IURD, afirmando que “não se pode estar numa igreja, numa instituição não fundada por nós e depois querer fazer daquilo o que a gente bem entender”.
“Não é justo nem legal, ”disse ainda que “os que querem ficar ficam os que querem sair saem”.
Pakisi rejeitou também o argumento que a propriedade dos templos deve ser dos fiéis que doaram o dinheiro para a sua construção e que portanto não pertencem à IURD.
“As pessoas quando aderem a uma instituição estão a aderir às regras dessa instituição, estão a dar dinheiro porque aderiram a essas regras”, lembrou, concluindo que a igreja foi fundada por Edir Macedo e "quem não está de acordo pode deixar a IURD, é muito simples”.