Pastores angolanos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) anunciaram nesta segunda-feira, 22, nas províncias de Malanje e Benguela, o afastamento de pastores brasileiros da liderança que, no entanto, reitera que a organização é brasileira.
Na província de Benguela, um grupo de pastores angolanos afastou a liderança brasileira do templo central, numa investida com contornos de violência, para a qual foram chamados vários agentes da Polícia Nacional.
A 48 horas do regresso dos cultos, os pastores apresentaram um manifesto em que contestam a vasectomia*, uma cirurgia que deixa estéreis os homens, o racismo e a gestão das contribuições dos crentes.
Com o pastor brasileiro fora das instalações, os angolanos davam ordens aos seguranças do templo denominado Cenáculo do Espírito Santo, procurando marcar posição no interior, perante a resistência de obreiros.
Ao apresentar o manifesto, em representação dos 14 pastores angolanos nesta província, Adélio dos Santos lembrou que a ruptura começou a ser desenhada em Novembro do ano passado.
"Eu mesmo tive problemas por ter engravidado a minha esposa, com quem vivo há 10 anos. As mulheres escondem, não podem engravidar, reclamamos também a evasão das divisas, é tudo feito a partir do Brasil’’, conta Santos.
Os pastores Adão e Mazuela complementam a onda de insatisfação.
‘‘Para nós, africanos, o filho vale mais do que o dinheiro. Como é possível cortar os meus testículos? Somos servos, queremos servir, mas há racismo, exclusão’’, desabafam.
O pastor brasileiro Edmilson de Sousa optou por não prestar declarações, mas teve a defesa dos chamados obreiros, jovens angolanos que se opunham à tomada do templo.
Aníbal Francisco diz que os insatisfeitos devem abandonar a IURD.
’’Quem fundou a Igreja Universal foram os brasileiros, não se pode mudar a liderança. Quem está descontente…”, afirma.
Em Malanje também
Na província de Malanje, sete dos nove pastores da IURD anunciaram também hoje fim de todo o vínculo com a liderança brasileira de Honirilton Gonçalves.
Em conferência de imprensa, os religiosos acusam o representante da congregação no país de orientar a perseguição de alguns obreiros brasileiros e nacionais, o que viola o objetivo de evangelizar as famílias angolanas na pacificação dos espíritos para sã convivência entre os cidadão.
O pastor da catedral de Malanje, Domingos Alemão, diz que o racismo e a vasectomia estão entre as infrações sistemáticas dos estatutos.
“Viemos denunciar publicamente os atos o arbitrariedades praticada pela actual direção da IURD em Angola”, nomeadamente “imposição e coação para a castração ou vasectomia aos pastores, aborto das esposas dos pastores que engravidam dos seus respetivos maridos, apegando-se à heresia, eleição dos membros dos órgãos sociais de forma ilegal, sem observar as normas estatutárias”.
Os pastores e as respetivas esposas são privados do acesso à formação académica, científica e técnico-profissional, refere o documento, que inclui também a usurpação de competências deliberativas da assembleia geral do atual presbitério geral, constam dos pontos da discórdia.
“A vasectomia existe”, disse o pastor Francisco Evaristo, justificando “ fui pastor regional e fui pastor provincial durante 5/6 anos, estou numa igreja aqui na província de Malanje porque recusei fazer a vasectomia”.
Ele diz que cumpre “castigo por não ter aceite fazer a vasectomia”.
Nos próximos dias, será eleito um líder de nacionalidade angolana para dirigir interinamente os destinos da IURD, numa altura em que a maioria dos pastores nacionais uniu-se à reforma da denominação iniciada no ano passado.
Os obreiros angolanos reiteram a intervenção das autoridades administrativas e judiciais para a reposição da legalidade.
A VOA tentou falar com o bispo brasileiro nesta cidade, Cleiton, mas sem sucesso.