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Angola: Antigo diretor do INAGBE refuta acusação de roubo e jurista defende comissão parlamentar de inquérito


Jovens estudantes caminham pelas ruas de Benguela, Angola
Jovens estudantes caminham pelas ruas de Benguela, Angola

Tribunal de Contas quer conhecer o paradeiro de 35 milhões de dólares

O Tribunal de Contas (TC) de Angola notificou o Instituto Nacional de Gestão de Bolsas de Estudo (INAGBE) para apresentar justificativos de mais de 35 milhões de dólares atribuídos ao antigo diretor Milton Chivela.

Em declarações à Voz da América, Chivela refuta a acusação de roubo de fundos na instituição, mas reconhece alguns incumprimentos durante a auditoria.

O juiz-conselheiro da 2ª câmara do TC, Fausto Carvalho Simões, enquanto relator do processo, notificou a 8 de Janeiro de 2025 o chefe de Departamento de Bolsa de Estudo Externo, Kiafuca Melete Diedone para exercer o contraditório, no prazo de 20 dias, nos termos do Regulamento Interno sobre o Funcionamento da 2ª Câmara daquele tribunal.

Aquele magistrado apontou irregularidades, como despesas em bens e serviços sem suporte documental, compras de moeda estrangeira sem o cumprimento de formalidades indispensáveis, como o apenso de facturas, ofícios de viagens, despachos e bilhetes de viagens e outros documentos.

Também foi encontrado um buraco de mais de 21 mil milhões de kwanzas em transferências e pagamentos sem justificativos, realizados em 2022.

Em terceiro lugar, o relator cita a existência de 101 bolseiros, devidamente identificados, que continuam a receber pelo INAGBE, mas não fazem parte das listas remetidas pelas universidades que acolhem os beneficiários., ou seja “bolseiros-fantasma”.

O Movimento dos Estudantes Angolanos (MEA) manifesta a sua preocupação com as denúncias por considerar que esses desvios prejudicam diretamente os estudantes, deixando muitos fora do sistema de bolsas de estudo.

“No processo de bolsas externas, foram canceladas muitas bolsas externas por incapacidade do Estado em pagar. As bolsas da Inglaterra, dos Estados Unidos, da Alemanha foram canceladas. Praticamente de Cuba e outros países também foram canceladas porque o Estado, na altura, alegou falta de recursos financeiros", aponta Francisco Teixeira, para quem "se se comprovar esse valor, a direção do INAGBE esteve muito mal em função do dinheiro, mas vamos acompanhar o processo e pressionar o governo para que, recuperado esse valor, ele seja investido na educação superior".

Entretanto, a Voz da América contactou Milton Chivela, que, sem gravar entrevista, negou os desvios de fundos na instituição, mas reconheceu ter havido incumprimento no processo de auditoria.

Chivela afirma aguardar agora o parecer final, após ter entregue, no dia 10 de fevereiro de 2025, as provas que, como exige a lei, constituem o contraditório, e que já foram enviadas ao TC.

O jurista Manuel Cangundo lamenta que em Angola não funcionem as comissões parlamentares de inquérito para averiguarem, porque no caso em concreto, "o que deveria ocorrer é que a Assembleia Nacional, ao receber, digamos, esse relatório do Tribunal de Contas, deveria criar uma comissão parlamentar de inquérito para o feito".

A comissão, segundo Cangundo, confirmados os indícios dessas irregularidades, remeteria o caso "ao órgão com competência de investigação ou então com competência penal, no caso a PGR, para que esta, por sua vez, também despolete mecanismos investigativos por meio de inquérito e se justificar a instrução ou instauração de procedimentos criminais".

Aquele jurista lembra que o TC não tem esta função jurisdicional, "não tem competência de julgar e condenar", mas, sim, a PGR.

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