O partido regente da África do Sul, ANC, reuniu-se internamente na quinta-feira, 6 de junho, para decidir como formar um governo, depois que não venceu uma maioria na eleição geral da semana anterior.
O Congresso Nacional Africano (ANC) do Presidente Cyril Ramaphosa ganhou 40 por cento dos votos – o pior resultado da sua história – e pela primeira vez desde o início da democracia em 1994 precisa do apoio de outros partidos.
“O que vocês fazem aqui?” Ramaphosa indagou aos repórteres, ao chegar a um hotel nos arredores de Joanesburgo onde o conselho do ANC estava reunido. “Vocês estão tão preocupados assim?”
O partido do falecido herói antiapartheid Nelson Mandela está divido sobre com quem compartilhar o poder, dizem analistas. Agora só terá 159 parlamentares dos 400 lugares na Assembleia Nacional, um declínio dos 230 em 2019.
Na quarta-feira, a representante do ANC Mahlengi Bhengu-Motsiri disse que os líderes eram favoráveis a formar uma coligação ampla para um governo de união nacional.
“Queremos trazer todos a bordo porque os Sul Africanos querem que a gente trabalhe junto pelo bem deles,” secretário geral do ANC Fikile Mbalula disse a repórteres na quinta-feira.
Mas observadores dizem que isso vai ser difícil devido às diferenças radicais entre alguns grupos que deveriam fazer parte.
“Eu não consigo... ver como isso pode funcionar de verdade,” a analista e autora Susan Booysen disse à AFP.
“Existe muita hostilidade e ressentimento entre os diferentes partidos políticos”.
Entre eles a Aliança Democrática (DA, sigla em inglês) de centro-direita, que ganhou 87 lugares com uma agenda liberal de mercado livre, e os Combatentes por Liberdade Económica (EFF, sigla em inglês) de esquerda, que ganharam 39 parlamentares e apoiam a redistribuição de terras e a nacionalização de setores económicos críticos.
Bhengu-Motsiri disse que o ANC está a dialogar também com o Partido da Liberdade Inkatha (IFP), partido nacionalista Zulu, que terá 17 lugares, e o partido anti-imigração a Aliança Patriota (PA) que terá nove.
O ANC também tentou “repetidamente” falar com o partido do ex-Presidente Jacob Zuma, uMkhonto weSizwe (MK), que ganhou 14.6 por cento dos votos e 58 lugares, mas sem sucesso.
Zuma, que já foi líder do ANC, há muito tempo se ressente sobre como foi deposto sob uma nuvem de alegações de corrupção em 2018.
O MK, que só foi estabelecido ano passado, rejeitou os resultados da eleição e disse que não apoiaria um governo liderado pelo ANC se Ramaphosa permanecesse no comando.
Porém o partido do Presidente pretende mantê-lo.
‘Alarido’
O analista Daniel Silke disse que o ANC está provavelmente a considerar a ideia de um governo de “amplo” para acalmar alguns membros antes de tentar uma coligação mais restrita se o debate por união nacional falhar.
Muitos dentro do partido são contra um acordo com a DA, algo que é favorecido por investidores e a comunidade empresarial, mas tem políticas contraditórias com as tradições esquerdistas do ANC.
Notícias sugerindo que o ANC estava a considerar formar um governo minoritário com o apoio externo da DA causou “um alarido enorme”, segundo Booysen.
Do lado de fora do hotel onde o Comite Executivo Nacional do ANC (NEC) estava reunido, um punhado de manifestantes seguravam placas que liam “No nosso nome não. #NotwithDA.”
O Partido Comunista Sul-Africano, um aliado histórico do ANC, também disse que era contra qualquer acordo com “as forças anti-ANC neoliberais de direita, lideradas pela DA.”
Juntos o ANC e a DA têm uma maioria confortável no parlamento.
Qualquer acordo com o EFF requereria o apoio de pelo menos mais um partido.
O novo parlamento vai reunir-se em menos de duas semanas e uma de suas primeiras tarefas vai ser eleger um Presidente para formar um novo governo.
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