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Afrobarómetro: Democracia em Angola, entre a verdade e a miragem


Funcionários eleitorais contam os boletins de voto após o encerramento das eleições nacionais na capital Luanda, a 31 de agosto de 2012.
Funcionários eleitorais contam os boletins de voto após o encerramento das eleições nacionais na capital Luanda, a 31 de agosto de 2012.

Analistas políticos e cidadãos dizem que não existe democracia no país

O mais recente inquérito do Afrobarómetro “Percepções africanas 2024: Democracia em risco – a perspeciva das pessoas”, divulgado recentemente, coloca Angola e Moçambique entre os quatro países do continente onde os cidadãos estão mais descontentes com a democracia, tal como é exercida atualmente.

Em Luanda, analistas políticos e cidadãos ouvidos pela Voz da América dizem que a realidade é bem pior que os números.

Afrobarómetro: Democracia em Angola, entre a verdade e a miragem
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O estudo, realizado em 39 países africanos, conclui que 84% dos cabo-verdianos têm uma preferência pela democracia, bem acima da média africana (de 66%), enquanto Moçambique, com apenas 49%, e Angola, com 47% dos inquiridos a favor da democracia, estão entre os menos contentes com este regime de governação, atrás da África do Sul e do Mali.

De acordo com o estudo, 53 por cento dos angolanos, 51 por cento dos moçambicanos e 48 por cento dos são-tomenses não preferem o sistema democrático.

Sentimento em Luanda

Em Angola, observadores apontam a insatisfação com os políticos como causas desses resultados.

O professor e antropólogo Miguel Kimbenze diz que os dados pecam por defeito porque “em Angola não temos a separacao de poderes, o político sobrepõe-se aos demais, num país onde as decisões fundamentais são por ordem superior”.

“É claro que é uma democracia fantasiada, uma Comissão Eleitoral que não é independente e partidarizada, os tribunais superiores são partidarizados e militarizados, e até questiono essa percentagem de 47 por cento que a Afrobarómetro apresenta”, conclui Kimbenze.

Aleixo Sobrinho, investigador do Instituto de Democracia e Desenvolvimento, alinha pelo mesmo diapasão e diz não acreditar que os números do Afrobarómetro condigam com a realidade.

"Enquanto não tivermos um país onde os governantes não se preocupam com o bem comum das pessoas, é obvio que as pessoas se sentem maltratadas, eu não estou a ver um filho maltratado em casa ir falar bem do pai”, aponta Sobrinho, para quem os números devem ser bem superiores.

Mas há quem pense o contrário, como o jornalista e diretor do jornal O Estado News, para quem o problema não está na implementação da democracia, mas na fragilidade da oposição.

"Hoje não se vislumbra alternância ao poder em Angola porque supostamente quem podia criar esta alternância está hoje, mais fragilizado que ontem, então o partido que sustenta o Governo há 50 anos vai continuar a sua hegemonia por mais cinco anos,
não porque a democracia esteja a ser mal implementada, não”, sustenta Jorge Neto.

Para aquele jornalista, “as pessoas precisam saber dos seus direitos e deveres e quando tiveram essa noção vão perceber que há, sim, uma evolução democratica no pais".

Nas ruas de Luanda, Marisa, estudante de enfermagem e de 21 anos de idade, disse à Voz da América que tanto os governantes como os que elaboraram este estudo são lunáticos.

"Democracia em Angola! Os dirigentes angolanos sequer fazem o seu papel, não conversam com as pessoas, nem liberdade de expressão temos, quem fala a verdade vai no caixão ou desaparece, os dirigentes em Angola não são sérios”, afirmou Marisa.

Julio Mazanga disse, por seu lado, que “o que existe em Angola é uma ditadura autêntica”.

O Afrobarómetro é uma rede de sondagens pan-africana e não partidária, que disponibiliza informação sobre as experiências e a avaliação da democracia, governação e qualidade de vida no continente.

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