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Afrobarómetro: mais moçambicanos e angolanos estão frustrados com a democracia


Eleitores fazem fila para votar em Maputo, Moçambique, terça-feira, 15 de outubro de 2019, nas eleições presidenciais, legislativas e provinciais do país
Eleitores fazem fila para votar em Maputo, Moçambique, terça-feira, 15 de outubro de 2019, nas eleições presidenciais, legislativas e provinciais do país

Mais de metade, 53%, dos africanos aceitam um golpe militar se os líderes “abusarem do poder para si próprios”.

Afrobarómetro revela que mais moçambicanos e angolanos estão frustrados com a implementação da democracia.

Moçambique e Angola estão entre os quatro países africanos onde os habitantes mostram menos preferência pelo regime democrático, devido à insatisfação com a sua implementação, enquanto Cabo Verde é a quarta nação que mais abraça a democracia, revela o novo estudo da Afrobarómetro.

Afrobarómetro: Moçambicanos frustrados com a implementação da democracia
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Dados divulgados na edição de 2024 desta sondagem continental, realizada em 39 países africanos, conclui que 84% dos cabo-verdianos têm uma preferência pela democracia, bem acima da média africana (de 66%), enquanto Moçambique, com apenas 49%, e Angola, com 47% a favor da democracia, estão entre os que estão menos contentes com este regime de governação, ficando apenas atrás da África do Sul e do Mali.

De acordo com o estudo, 53 por cento dos angolanos, 51 dos moçambicanos e 48 por cento dos são-tomenses não preferem o sistema democrático.

Quanto aos cabo-verdianos, 84 por cento preferem a democracia.

A Guiné-Bissau não foi contemplada no estudo.

O inquérito, conduzido entre 2021 e 2023, anota que 62% dos cidadãos em Cabo Verde, 55% em Moçambique e 51% em Angola responderam afirmativamente, quando questionados se os militares podem intervir na política quando os políticos falham.

Afrobarómetro: Democracia em Angola, entre a verdade e a miragem
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No entanto, sobre governos militares, 80 por cento dos são-tomenses disseram opor-se, bem como 7o por cento dos cabo-verdianos, 66 por cento dos angolanos e 61 por cento dos moçambicanos.

A nível continental, mais de metade dos africanos, 53, aceitam um golpe militar se os líderes “abusarem do poder para si próprios”.

A sondagem surge num ano em que estão agendadas eleições em 17 países da África Subsariana, 11 dos quais para escolher o seu chefe de Estado e outros para concluir processos de transição iniciados por golpes de Estados recentes.

Corrupção aumentou

No geral, 58% de todos os inquiridos em África - 52% em Moçambique - consideram que a corrupção aumentou no seu país face ao ano anterior, uma situação que está diretamente associada à insatisfação com a implementação da democracia e o apoio a ditaduras e governos militares, disseram vários residentes de Chimoio ao reagir ao mais recente estudo da Afrobarómetro.

“Era preferível ter um partido único, mas com projetos concretos de desenvolvimento, do que fingir-se fazer eleições e que a priori já se conhece o vencedor”, afirmou David Jemusse, acrescentando que os governos eleitos não se interessam com o que a população pensa.

Ainda segundo Jemusse, a retirada da candidatura da Coligação Aliança Democrática (CAD) é uma negação à vontade do povo, o que fere a democracia.

O analista político Zito Pedro observa que o coartar dos direitos políticos e das liberdades civis leva as pessoas a se revoltarem com o regime de governação democrática no país, que outros estudos a classificam de autoritário.

“Há uma ideia enraizada dos moçambicanos com tendência de insatisfação obviamente pelo regime político que Moçambique está a implementar. Alias Moçambique é considerado um regime autoritário, onde o pluralismo e as liberdades civis são uma miragem, há um combate à imprensa de forma fervorosa e isso leva a insatisfação”, afirma Zito Pedro.

Por sua vez, o analista político Sande Carmona entende que a crescente abstenção nas eleições moçambicanas são um indicador claro da insatisfação pelo atual regime democrático.

“Temos uma democracia doentia, cujo quadro clínico não mostra evolução. É uma democracia voltada à falência de um Estado, com níveis acentuados de corrupção e nepotismo”, precisa Sande Carmona, realçando que os moçambicanos precisam “reerguer um país diferente deste que estamos a viver”.

Apesar da insatisfação, Carmona diz que há pouca probabilidade de os moçambicanos apoiarem ditaduras e ou governos militares.

“Não consigo encontrar nos moçambicanos a possibilidade de tornar o país militarizado, ou, tornar o país a ser dirigido por um país militar”, conclui.

Golpes de insatisfação

Nos últimos anos, oito golpes de Estado foram bem-sucedidos em África e uma nova tentativa fracassou na República Democrática de Congo (RDC) em maio de 2024.

O Gabão foi o último da lista de países que tiveram golpes de Estado bem-sucedidos nos últimos quatro anos: Mali (agosto de 2020 e maio de 2021), Guiné-Conacri (setembro de 2021), Sudão (outubro de 2021) e Burkina Faso (janeiro e setembro de 2022) e Níger (julho de 2023).

O Afrobarómetro é uma rede de sondagens pan-africana e não partidária, que disponibiliza informação sobre as experiências e a avaliação da democracia, governação e qualidade de vida no continente.

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