Todos os anos milhares de jovens africanos que estudam em outros continentes concluem os seus estudos universitários e enfrentam o dilema de voltar ou não para casa. Instabilidade política, crise na economia e uma pandemia certamente diminuem as chances de se conseguir o primeiro emprego. Mas o que fazer então?
Armando Mualumene é gestor do Ideas Lab, laboratório que faz parte do Centro de Inovação e Aceleração da Universidade Estatal de Tecnologia do Texas, em Lubbock. No laboratório, ele testa modelos e procura soluções aplicáveis para o continente africano.
"O projeto do Ideas Lab surge com o objetivo de responder de forma prática aos problemas que os estudantes angolanos, africanos de forma geral, começaram a passar por volta de 2013".
Mualumene destacou as dificuldades enfrentadas com a queda do preço do petróleo nos últimos anos, o que levou muitos países do continente africano a uma crise financeira. Com pouca receita não há geração de empregos, e "muitos jovens dependem do Estado para criar empregos".
O gestor do Ideas Lab explicou que o laboratório ajuda os jovens e adultos africanos que vivem no sul dos Estados Unidos a se posicionarem como um produto, o qual é determinado pela sua qualidade e exposição.
O laboratório também ajuda estudantes que têm interesse em empreendedorismo, fornecendo lhes informações de como devem se preparar antes e depois da formação para empreender com sucesso.
Já tenho o meu diploma na mão. E agora, volto para o meu país, ou não?
Depois de pesquisar a causa do fracasso dos estudantes africanos que se formam entre os melhores de suas turmas, mas que não conseguem um emprego em suas áreas, a equipa do Armando Mualumene descobriu que não havia nenhum sistema de suporte que ajudasse os jovens antes da graduação a se posionarem para a vida, como há nos Estados Unidos e na Europa.
"Este sistema de suporte, estamos a falar de um mentor, mentoria, antes e depois da formação. E essa mentoria pode ser dada por um professor, por um pai, por um sistema da universidade".
Além de posicionar os estudantes para o empreendedorismo, a equipa do Armando Mualumene criou um sistema de mentoria.
"Temos um evento chamado de Ideas Fair, onde todos os anos nos sentamos com os estudantes e discutimos ideias, apresentamos mentores, desde empresários, professores, investigadores científicos, que no final têm o objetivo de dar dicas aos estudantes, com ou sem experiência, para que eles possam se posicionar como um produto no mercado".
O gestor do Ideas Lab sabe que o continente africano tem muitos problemas e esta é a realidade. Para ele, o desafio dos nossos tempos não é apenas discutir esses problemas, e sim apresentar um modelo de solução.
"Não há emprego depois da formação por várias razões: económicas, sociais, políticas. Mas o problema não está em não ter emprego porque o desemprego juvenil assola a América, Europa, a América do Sul. A questão é o que nós podemos fazer para ajudar os jovens a se posicionarem mesmo sem ter emprego."
E este modelo está dando certo?
Segundo Mualumene, o modelo está funcionando. Ele citou como exemplo três jovens africanos que lançaram os seus modelos de startups nos seus países de origem.
"Temos jovens do Quênia, do Congo e do Gana que depois de terminarem a formação foram com os modelos para os seus países, e além de dar o primeiro emprego para outros jovens eles não estavam perdidos".
Mualumene explicou que os estudantes que participam do Ideas Lab continuam a receber mentoria do centro e das conexões que fizeram. Mas o objetivo do laboratório não é ficar com o jovem por muito tempo. Todos os anos o Ideas Lab recebe 60 estudantes.
"Resolver os problemas é pensar na sustentabilidade. Eu não faço por mim, faço para a geração que vem depois de mim. Os modelos de soluções provavelmente vão dar fruto daqui a 20 ou 30 anos".
O gestor do Ideas Lab quer deixar um legado para que o jovem quando sair da universidade possa encontrar alguém na sociedade que o ajude a caminhar, porque embora um diploma académico seja importante, ele não garante um emprego.
Armando Mualumene concluiu a entrevista falando sobre o sonho que tem de ver e fazer o jovens africanos trabalharem. Ele sabe que precisa fazer parte da solução, assim como muitos outros membros da comunidade.
Armando Mualumene é natural da Lunda Norte, está há 10 anos nos Estados Unidos. Ele é engenheiro industrial de formação com diversas pós- graduações, com destaque para a de Ciência, Tecnologia, Matemática e Engenharia com especialização em Empreendedorismo e Inovação.