Paulo Paca é natural do Uíge, Angola, mas desde 1998 mora na Europa. Fugiu da guerra em busca de uma vida melhor na Holanda. Recentemente lançou o livro "Uma história de vida: prós e contras da emigração".
Em entrevista à Voz da América, ele descreveu as fases que as pessoas vivem quando decidem deixar o seu país de origem: emigração, integração e crise de identidade.
"São coisas que as pessoas passam em silêncio. E não temos capacidade nem para podermos ajudar uns aos outros."
Embora muita gente se dê bem nos países que escolhem morar, há muitas pessoas que se arrependem.
"Muitas vezes as pessoas ficam vários anos na prisão, solicitam asilo, e passam de 10 a 15 anos em processos que nunca terminam".
Paca acrescentou: "Temos visto muitos perdidos aqui pelas drogas, desespero.
O autor angolano gostaria que os países africanos fizessem mais pelo seu povo que emigrou.
"O ideal seria os governos pudessem olhar para a situação e impedir. Os africanos são os que passam as piores situações aqui".
Paca criticou a falta de valor que se dá à vida de um africano.
"No mar Mediterrâneo centenas de pessoas morrem e ninguém faz nada. Ninguém faz investigação e nem procura saber quem foi quem. Em determinados países morrem duas pessoas e se levanta uma comissão de inquérito para apurar o que aconteceu."
Integração
Paca contou que a sua integração na Holanda foi difícil.
"Mas com muito esforço, dedicação, conseguimos aprender a língua, a fazer alguma formação e hoje estamos aqui lutando com a vida".
O autor angolano deu um conselho essencial para quem planeia emigrar.
"Quando alguém sai do seu país tem que estar preparado para aprender e se adaptar na sociedade para poder funcionar".
E destacou: "A integração é um ponto crucial para quem emigra".
Crise de Identidade
"A crise de identidade é muito comum. Vejo isso em Angola e em toda a parte do mundo. Onde há pessoas que se deslocam há sempre crise de identidade. Isso porque depois que uma pessoa passa vários anos em outro país ela aprende uma outra língua, uma nova maneira de se vestir, adquire novos hábitos alimentares e muitas vezes tem crianças que não falam a língua do país de origem dos pais".
Paca acrescentou: "A pessoa se adapta e começa a se identificar com o país que o acolheu. No entanto, depois descobre que nem todo mundo desse país te vê como holandês, por exemplo, e sim como africano".
Paca tem filhos que enfrentam as mesmas dificuldades, embora tenham nascido e crescido na Holanda.
Esse comportamento de alguns europeus tem causado muita confusão, afirmou Paca, que contou como educa os seus filhos para lidarem com esta situação. Ele explicou que os prepara para que saibam da realidade em que vivem e para que não sejam preconceituosos. Também ensina que a Holanda é o segundo país deles e portanto precisam saber a cultura africana e angolana, respeitando a cultura holandesa.
"Você tem que dar o seu melhor e mostrar que pode funcionar nesta sociedade. Você se sente cidadão deste país. Do mesmo jeito que se estiver em Angola, você também é cidadão angolano porque seus pais vieram de lá".
Conciliar as culturas e respeitá-las são alguns dos ensinamentos que Paulo Paca tem passado aos seus filhos.
O livro de dele foi lançado em fevereiro com a intenção de expor uma situação recorrente e contar por meio de histórias pessoais, de amigos, familiares e filhos, as dificuldades que os emigrantes enfrentam. Ele atualmente mora na Bélgica.