Moçambique celebrou na terça-feira, 4 30 anos do acordo geral de paz, no momento em que o terrorismo continua a provocar destruição e mortes.
As Igrejas querem unir-se para mobilizar apoios e ajudar os deslocados vítimas do terrorismo na Província de Cabo Delgado.
O desejo foi manifestado em Maputo, durante um encontro inter-religioso organizado pela Comunidade de Santo Egídio e que se destinava a celebrar o Acordo Geral de Paz assinado há 30 anos, em Roma, capital italiana.
No pátio da Sé Catedral de Maputo, na presença do primeiro-ministro, outros representantes do Governo, de membros do corpo diplomático acreditado em Maputo, líderes de diferentes confissões religiosas e pela voz de Techa Nanja, da Comunidade de Santo Egídio, foi lido o apelo de paz.
O documento é uma espécie de “grito pela paz” e pediu-se até que se pare a produção de armas no mundo.
“As religiões não podem ser usadas para a guerra. Só a paz é santa e que ninguém use o nome de Deus para abençoar o terror e a violência”, lê-se no documento.
Organizado pela Comunidade de Santo Egídio, Comunidade cuja sede acolheu as conversações e o momento histórico de assinatura do acordo que em 1992 pôs fim aos 16 anos de guerra civil, o encontro inter-religioso foi marcado por muitos discursos.
Joaquim Chissano, antigo Presidente da República e considerado o arquitecto da paz em Moçambique, pediu uma verdadeira reconciliação entre os moçambicanos.
“A Igreja Católica, sobretudo, está em muitos mais lugares do que muitas outras igrejas…as mesquitas, em certas províncias, enchem toda a província, portanto, estão em contacto com as famílias. Sabem onde é que houve ruptura da sociedade. O nosso tecido social foi rasgado em pedaços. …é isso que temos que reconciliar, temos que reconstituir…a reconciliação tem de ser entre essas pessoas. Não é tanto Renamo, Frelimo. Se for isso não haverá reconciliação, se ela não abranger aqueles pedaços do tecido social que estão dispersos, que estão a voar por aí”, disse Chissano.
Ivone Soares, deputada e membro do Conselho Nacional da Renamo, disse à VOA que um dos grandes problemas que o país tem é a falta de diálogo.
“A manutenção da paz não é algo que devemos duvidar, se é importante ou não…é importante mantermos a paz…a qualquer custo temos de manter a paz…mas também é importante que nós todos façamos este exercício de verificar: na nossa família, na nossa comunidade quem são as pessoas que nós temos certeza de que estão a perigar a paz…e podemos chamar esta pessoa à razão, podemos convoca-la para uma sentada, podemos dialogar com esta pessoa…e nunca acharmos que o diálogo é um desperdício porque ele não é…então, é o apelo que eu gostava de fazer neste 30 anos de paz que celebramos hoje”, afirmou Soares.
Por seu lado, a presidente do Conselho Cristão de Moçambique, afirmou que o problema não é só o terrorismo em Cabo Delgado.
Na opinião da pastora Felicidade Chirinda, outra grande preocupação são os jovens: muitos se envolvem na droga e no consumo excessivo de álcool.
E falta emprego e há muita pobreza.
Ela pediu que as confissões religiosas se unam.
“Porque o que nos afasta é que cada um quer fazer a sua coisa e à sua maneira. Não funciona. Temos que estar unidos nesta nossa reconciliação social”, sublinhou.
Para o padre Giorgio Ferretti, da Comunidade de Santo Egidio, nenhum homem deve matar outro homem: nem aqui e nem na Ucrânia.
Para ele, uma das acções imediatas que a Igreja Católica e todas as outras confissões religiosas podem fazer é unir esforços para mobilizar apoios e ajudar a população deslocada, vítima do terrorismo, em Cabo Delgado, norte de Moçambique.
“O desafio da Presidente do Conselho Cristão de Moçambique foi directamente feita a mim e à comunidade de Santo Egídio…Então, eu já disse à reverenda Felicidade que vamos sentar e começar a programar. Eu acredito que um bom gesto seria começar a fazer qualquer coisa juntos para os deslocados de Cabo Delgado e também para os pobres”, disse Ferreti à VOA.
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