A Polícia da República de Moçambique (PRM) em Vanduzi, travou uma autêntica guerra para impedir o linchamento, numa esquadra, de um jovem encontrado na posse de vários órgãos humanos na quinta-feira, 15, num caso suspeito e que reacende a preocupação com o aumento de casos de tráfico de órgãos humanos na província de Manica.
O tumulto iniciou poucas horas depois do jovem ter sido detido pela Polícia e conduzido a uma esquadra do bairro Heróis Moçambicanos, um subúrbio do distrito de Vanduzi, quando uma multidão invadiu o local para linchar o suspeito, alegadamente para travar a onda de assassinato e extração de órgãos humanos para suposto tráfico.
“É uma coisa que nós repudiamos, o suspeito é um jovem que devia construir o futuro do país, nem nós que somos mais adultos nunca passamos por essas situações de matar pessoas e cortar cabeça”, disse à VOA Carlos Fombe, durante um tumulto de repúdio.
O jovem suspeito foi detido na posse de uma cabeça e pulmões extraídos do corpo de um homem adulto, morto na madrugada de ontem num caso suspeito de tráfico de órgãos no centro de Moçambique.
Um porta-voz da PRM em Manica, Mário Arnaça, disse à VOA que a população aglomerou e invadiu a esquadra e a corporação teve de repelir o tumulto para evitar o pior, mas esta não conseguiu evitar que a população destruísse uma residência precária do suspeito.
“Queremos apelar a comunidade para não pautar pela justiça privada, é preciso confiar nas autoridades da administração da justiça para dirimir qualquer tipo de conflito”, vincou Mário Arnaça, insistindo que é também preocupação da polícia o reacender de casos de tráfico de órgãos humanos.
Ainda segundo a fonte, o suspeito detido, um jovem de 18 anos, terá atacado e decapitado o guarda de uma residência para depois lhe retirar parte dos órgãos, num crime supostamente "encomendado pelo patrão” do agressor.
A polícia explicou que “o indivíduo tinha sido contratado por um cidadão de nacionalidade bengali, para procurar órgãos humanos, e este movido pela ganância de dinheiro”, executou o crime.
O suspeito detido já tem passagem pela PRM por outros crimes de homicídios.
O suspeito disse que o crime foi encomendado pelo patrão para cobrir uma dívida de 55 mil meticais (cerca de 870 dólares norte-americanos), que resultou do desaparecimento de varões de construção no armazém do estrangeiro.
Para ser ilibado do crime de roubo “o bengali disse para eu matar uma pessoa e trazer cabeça e pulmões”, precisou.
A situação tem antecedentes na província, com desfechos não conhecidos.
Em Abril, centenas de pessoas saíram à rua e destruiram duas residências de um comerciante local, que diziam ser suspeito de ter raptado duas filhas dos seus empregados, após a população ter supostamente encontrado parte de órgãos humanos guardados em dois frigoríficos, tendo na sequência começado o confronto com a polícia que tentava dispersar os manifestantes.
Uma pessoa morreu baleada pela Polícia.
As autoridades judiciais colocaram a região em "alerta vermelho" em 2012, ao considerar "alarmante" a subida de casos de tráfico de pessoas e de órgãos humanos, muitos ligados à feitiçaria e outras práticas de enriquecimento ilícito.