O presidente do Partido Africano da Independência da Guiné e de Cabo Verde (PAIGC) responsabilizou o chefe de Estado Umaro Sissoco Embaló por qualquer atentado contra a vida dele e atribuiu ao chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, general Biagué Na N´tan, a responsabilidade pela actual situação no país.
Ao falar para jornalistas e para centenas de militantes na sede do partido, Domingos Simões Pereira disse que “temos de chamar a atenção do general de que pode estar a ser usado e amanhã é quem terá de responder por tudo o que aconteceu”.
Depois de revelar que conhece Na N´Tan há cerca de 40 anos, o antigo primeiro-ministro foi peremptório ao afirmar que o “principal responsável por esta situação é um homem que eu prezei muito e que durante muito tempo me tratou por sobrinho e que tinha muita estima por mim, mas que a dado passo deste percurso decidiu enveredar por outros caminhos, que se têm traduzido numa oposição ferrenha contra o nosso partido, sem entendermos qual a razão para tal”.
Simões Pereira continuou dizendo ter a imagem do chefe das Forças Armadas como de um homem “íntegro” e que “sempre esteve ao lado da legalidade e da verdade”, de quem esperava mandar fazer “um inquérito rigoroso, sério, isento e competente”.
“Em vez disso, ouvimos ser ordenada a prisão de pessoas, não sabemos baseada em que indícios, casas de pessoas a serem violadas sem mandado judicial, acusações políticas transformadas em sentenças para cumprimento imediato”, acusou Simões Pereira, quem reiterou “ao general” que continua “a ser a mesma pessoa e a violência não faz parte das minhas opções de vida e muito menos os golpes de Estado”.
“Temos de chamar a atenção do general de que pode estar a ser usado e amanhã é quem terá de responder por tudo o que aconteceu”, alertou.
O líder da oposição enfatizou, entretanto, que quando “envolvem elementos estranhos, quando são as Forças Armadas a entrar no jogo, isso muda diametralmente o equilíbrio das forças e enviesa o jogo”.
Alerta à comunidade internacional
“Razão por que temos de reconhecer que não é Sissoco Embaló que nos oprime e quer abusar, mas as forças que são postas ao seu dispor, mesmo quando em claro desrespeito e em violação flagrante da Constituição”, sublinhou Simões Pereira, lembrando que as Forças Armadas viabilizaram a chamada “tomada de posse simbólica” do Presidente da República que, por isso, segundo ele, não respeita as instituições, “nomeadamente a Assembleia Nacional Popular”.
Na sua comunicação, Domingos Simões Pereira afirmou ter alertado o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o presidente em exercício da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO), Nana Akufo-Addo, e o presidente em exercício da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), João Lourenço, que a sua vida está em perigo.
“Se algo de acontecer ou aos meus camaradas perguntem a eles e a Umaro Sissoco Embaló, disse.
O antigo primeiro-ministro também não poupou críticas ao Ministério Público que o considera suspeito de envolvimento no caso “Resgate”, alegadamente de corrupção durante o Governo do PAIGC, e que emitiu uma recente medida de coação que o impede de deixar o país.
Entretanto, na quinta-feira, 22, a Mesa da Assembleia Nacional Popular rejeitou a “decisão de fere gravemente a tutela da imunidade parlamentar constitucionalmente assegurada à ANP e por via disso aos seus membros, para além de transportar outros vícios mais gravosos” e pede ao Ministério Pública para se “retratar do despacho em causa”.
A VOA contactou o Estado-maior das Forças Armadas, mas o porta–voz remete uma eventual reacção para mais tarde, depois de reunir todos os elementos da conferência de imprensa de Domingos Simões Pereira.