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Chefe do exército guineense ordena "busca e apreensão" de implicados nos incidentes do dia 1


Biagué Na N'Tan, chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau (Foto de Arquivo)
Biagué Na N'Tan, chefe de Estado-Maior General das Forças Armadas da Guiné-Bissau (Foto de Arquivo)

Há duas semanas, várias casas em Bissau têm sido revistadas por contingentes de homens fardados e armados

O chefe de Estado-Maior General Forças Armadas da Guiné-Bissau classificou de vergonhoso que nenhum quartel tenha saído em defesa do Presidente da República no dia 1 de Fevereiro e que 17 dias depois ninguém foi detido.

As afirmações do general Biagué Na Ntan foram feitas nesta sexta-feira, 18, durante uma visita ao quartel de comando em Bissau, na qual determinou a busca dos autores dos incidentes do dia 1.

Entretanto, há duas semanas várias casas em Bissau têm sido revistadas sem mandado judicial à noite à procura de armas e pessoas.

“Busca e apreensão”, disse o chefe do exército ao se dirigir aos comandantes das Zonas Militares, na presença de jornalistas, segundo ele, com o objectivo de levar os responsáveis à justiça.

“Vim cá hoje com o objectivo de vos dar uma directiva de comando do Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas. Não vim cá para falar de política, vim cá dar ordens para execução obrigatória. Quem não cumprir, será substituído”, afirmou o general Na Ntan, acrescentando querer saber “porque é que pessoas que juraram a bandeira da Guiné-Bissau, pessoas que recrutamos, pessoas a quem demos a farda militar, pegaram em armas para atirar contra o Presidente da República, o primeiro-ministro e membros do Governo, mas ninguém fez nada”.

O chefe do Estado-Maior General classificou de “vergonha” que os seus homens “não tenham feito nada, não tenham perseguido” os autores da alegada tentativa de golpe de Estado.

“Ainda pior, já se passaram 17 dias e essa gente não foi detida”, criticou o general que não se encontrava no país no dia 1 de Fevereiro.

Ele regressou a Bissau na segunda-feira, 14, depois de três semanas em tratamento na Espanha.

Denúncias de buscas nas últimas semanas

No entanto, como a VOA noticiou na semana passada, muitas casas de Bissau estão ser revistadas por contingente formados por cerca de 20 homens armados.

A advogada Maimuna Sila teve a casa revistada sem qualquer mandado judicial, apesar de, segundo ela, não ter “ligações com a política nem ter em mãos qualquer caso penal”.

“Homens fortemente armados, fardados, quiseram entrar em minha casa com armas, metralhadoras, pedi que não o fizessem porque estava com crianças a quem eu não queria traumatizar, felizmente anuiram, entraram três homens na minha residência, ficaram, creio, mais de 20 homens lá fora, e reviraram tudo à procura de armas e de pessoas”, contou Sila que no dia seguinte soube que “mais casas da minha rua tiveram a mesma sorte”.

A advogada garante que vai à justiça porque “isto é uma violação mais do que flagrante dos meus direitos, ainda para mais àquelas horas, e vou fazer tudo o que a lei me permitir.

Outro morador que não quis se identificar por razões de segurança também recebeu a visita de homens armados de madrugada.

“Mandaram abrir a mala, guarda-fatos, não viram nada, a minha mãe até disse que nem sequer temos catana”, diz e quando questionado se eles lhe apresentaram um mandado judicial, afirmou que dissseram ser “ordens superiores”.

LGDH classifica buscas de ilegais

A Liga Guineense dos Direitos Humanos (LGDH) disse ter conhecimento da investida desses homens armados a várias residências, facto que, para o seu vice-presidente, “é totalmente ilegal”.

“Nós consideramos essas buscas como actos ilegais, actos arbitrários, essas buscas podem criar situações de insegurança para os cidadãos porque pessoas com má-fé podem aproveitar este tipo de situações para também atacarem residências privadas em nome de buscas que estão a ser efectuadas por autoridades policiais”, afirma Bubacar Turé.

No entendimento da LGDH, estas buscas “não credibilizam o próprio processo de investigação em curso sobre a tentativa ou ataque ao Palácio do Governo”.

Na altura a VOA contactou o Estado-Maior das Forças Armadas , mas não obteve qualquer reacção.

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