No segundo dia reservado da audição como declarante, Armando Guebuza voltou a abrir a sua “caixa de pandora” sobre o projecto que virou calote.
Respondendo a perguntas feitas pela Ordem dos Advogados (OAM), ele reiterou a sua convicção sobre a utilidade e viabilidade e, perante as consequências que resultaram do fracasso deixou desabafos, com ataques para dentro e fora de portas.
“Não houve entre os países que aplicaram sanções, o esforço de compreender o que aconteceu e, naturalmente, nós outros que estávamos a trabalhar neste processo não fomos questionados, nem por estes países, nem pelo nosso Governo. Só agora, sete anos depois, e em sede do Tribunal é que somos questionados,” desabafou.
Durante certa de três horas de audição, voltou a mostrar hostilidades com Filipe Nyusi, chegando a considerar de estranhas as declarações prestadas na instrução preparatória.
“Ele (Filipe Nyusi) era o chefe do Comando Operativo e diz que não sabe de nada, isso é estranho” disse Guebuza, que sublinhou que “o projecto era uma coisa que era necessária”.
Juiz volta negar audição a Nyusi
Perante as declarações do antigo estadista que, de forma reiterada imputou ao Presidente Filipe Nyusi, a responsabilidade pela explicação de todas as questões relacionadas com a parte financeira dos projectos do calote, incluindo os 500 milhões de dólares cujo rasto não foi encontrado pelo relatório da Kroll, a Ordem dos Advogados de Moçambique (OAM) voltou a pedir que o chefe de Estado seja ouvido.
“Estamos com novos dados, de que resulta, na nossa opinião, a necessidade de audição, na qualidade de declarante, de Sua Excelência Filipe Jacinto Nyusi” sustentou Flávio Menete, em nome da OAM.
Era a segunda vez que os advogados, que participam como assistentes do Ministério Público, faziam o pedido que voltou a ser negado pelo Juiz Efigênio Baptista.
Baptista voltou a alegar que esse assunto já teve decisão e não pode voltar atrás.
Defesa “festeja”
As respostas de Guebuza reforçaram a convicção de alguns advogados de defesa, que acreditam ter conseguido ferramentas para derrubar as acusações dos seus constituintes.
Abdul Gani, advogado do antigo director-geral do Serviço de Informação e Segurança do Estado, Gregório Leão, diz que uma das teses do Ministério Público foi derrubada.
“Depois das declarações de ontem (quinta-feira, 17) onde (Guebuza) explicou em que contexto foram criadas as empresas, quando ele diz que o SIMP (Sistema de Monitoria Protecção) no seu conceito prévia a criação das três empresas e o momento de execução foi posterior, significa que aquilo que diz a acusação caiu por terra” disse Gani.
Na próxima segunda-feira, o julgamento volta para decidir sobre o pedido de arresto de bens dos 19 arguido em julgamento desde Agosto do ano passado, feito pelo Ministério Público.
De seguida, as partes terão duas semanas para preparar as alegações finais, antecedendo a sentença do processo.